Todos os Sonhos do Mundo, um diário — Rascunho 3

Trinta anos de carreira e é a primeira vez que estou sozinho em cena. Então tudo é novo e muito estranho. Porque “Todos os Sonhos do Mundo” não tem aparatos técnicos, nem tecnológicos. Não há uma música sequer e a iluminação é muito simples. Então, o Dennys Leite, o técnico mais querido do teatro paulistano inteirinho é quem vem me acompanhando nesta jornada. Entre o mundo lá fora e o pequeno palco aqui do Satyros, só nós dois.

Tem sido uma experiência incrível. Um tempo para medir e tratar a minha relação com o público também. No mínimo, um tempo de aprendizado. Mas de solidão, sobretudo. Me lembro agora de uma frase da atriz e dramaturga portuguesa Sofia Berberan, que ouvi numa peça em Cabo Verde, onde ela dizia: “morre-se como se sonha, sozinho”.

Minha peça acaba falando sobre isso também. Sobre experiências de reinvenções que só podem ser realizadas quando praticadas solitariamente. Não existe outra saída além da solidão.

Na apresentação de sábado recebi um público incrível, participativo e bastante interessado. Muitos soluços vindos do escuro da plateia; dois psiquiatras, um que conversou comigo durante um momento em que falo com o público e revelou sua profissão, e meu amigo Filipe Doutel, que estava à minha espera ao final da peça.

Também na plateia, mais críticos e um importante curador alagoano, que me fez um pré-convite para que a peça seja apresentada em Maceió no ano que vem.

Na sessão de domingo, novamente muitas lágrimas vindas da plateia. Ao final, mais uma vez sou procurado por uma senhora que está chorando e me confidencia:

— Hoje eu pensei que não queria mais viver. Foi importante ter visto a sua peça.

Há pouco, recebo um mensagem no WhatsApp. É do Contardo Calligaris e leio:

Foi muito bom, não só voltar aos Satyros e rever você e o Rodolfo. Foi muito bom assistir aos Sonhos, que achei maduro e comovedor.

 

LEIA TAMBÉM:

TODOS OS SONHOS DO MUNDO, UM DIÁRIO – RASCUNHO 1
TODOS OS SONHOS DO MUNDO, UM DIÁRIO – RASCUNHO 2
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CRÍTICA DE MIGUEL ARCANJO PRADO
OPINIÃO DE MARIO BAGGIO
EU FIZ UMA PEÇA PARA NÃO ENLOUQUECER

Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
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