por Mário Baggio
E se você, numa quarta-feira, fosse ao teatro e, em vez de um espetáculo tradicional (daqueles com começo, meio e fim), assistisse a um comovente encadeamento de histórias pessoais do único ator em cena?
E se o único ator em cena relatasse histórias que a maioria de nós só contaria para uma pessoa da mais absoluta confiança?
E se no palco não houvesse personagem, mas um ator em carne, osso, vísceras, sangue, palavras e poesia?
E se as histórias fossem contadas sem a menor sombra de drama ou vitimismo, antes em tom apaziguado, sereno e conformado, nível que se atinge após anos, talvez décadas, de muito amadurecimento e muita dor?
E se as histórias fossem contadas em meio a poemas de Mário Quintana, Drummond e Fernando Pessoa, entre outros grandes?
E se grande parte das histórias tivesse se passado numa cidadezinha do Paraná chamada Ribeirão Claro, que, por acaso, é a mesma cidade em que nasci?
E se eu tivesse conhecido, na minha infância e adolescência, vários dos personagens que fazem parte das histórias narradas pelo ator?
E se o chão do pequeno palco fosse aos poucos sendo coberto por pétalas de rosa, perfumando o ar do teatro, perfumando as palavras?
É assim “Todos os sonhos do mundo”, espetáculo a que tive o privilégio de assistir ontem, no Teatro dos Satyros.
Ao Ivam Cabral, meu respeito, minha admiração e meu amor.
Fonte: Facebook, 21 de novembro de 2019
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