Há quem diga que a vaidade não mata, mas deixa sequelas. Ontem eu descobri que também mancha, arde, esfola. E ainda faz você chegar a um restaurante elegante com cara de quadro cubista. Tudo isso por uma boa causa: homenagear uma amiga queridíssima em seus noventa anos. Nove décadas. Não é todo dia que alguém […]
PSICANÁLISE | O poder do ponto final
A psicanálise nunca nos prometeu respostas. Não é desse tipo de ciência que se ocupa. O que ela nos dá, na melhor das hipóteses, é um mapa das nossas feridas. Uma cartografia das dores, com suas cores e suas margens borradas. As respostas, se é que existem, estão sempre além do consultório. O que ela […]
LETRAMENTO | Renda-se: quando a fúria se veste de silêncio
Ontem fazia um frio danado em São Paulo. Sair de casa exigia um pequeno heroísmo. Foi assim que cheguei ao Sesc Ipiranga para assistir à última sessão de “Renda-se”, texto da britânica Sophie Swithinbank, interpretado por Martha Nowill e dirigido, com precisão e risco, por Fernanda D’Umbra. Uma daquelas experiências raras que continuam a nos habitar […]
A VIDA DA GENTE | O coração pequenininho
Hoje meu coração doeu. Encolheu até caber na palma da mão, como uma caixinha frágil, incapaz de conter tudo o que ainda pulsa. Falei com uma amiga querida, que cuida de sua mãe, acamada há mais de dois anos, depois de sucessivos AVCs. Desde então, o corpo já não obedece. Apenas respira, como quem se […]
NA SUÉCIA | Neve no Brasil: um silêncio que se recusa a morrer
O grupo Darling Desperados, fundado em Malmö em 1987, foi – dizem crítica e público saudoso – “um sopro, um rasgo no tecido de um tempo, pequenas tempestades que mudaram a paisagem de uma cidade inteira”. No início dos anos 1990, quando ainda era possível acreditar que a arte podia não apenas provocar, mas também […]
DECOLONIALIDADE | O grito e as brechas
Algumas escolas de teatro ensinam a projetar a voz, a entrar em cena, a cair com elegância. E outras escolhem, com uma certa teimosia poética, ensinar a cair do mundo e refazê-lo. Um pedaço por vez, como quem varre a casa depois de um terremoto. A Ernst Busch, em Berlim, é dessas que, apesar do […]
INTERCÂMBIO | Quando o Mundo Habita uma Escola
Uma escola não é feita apenas de tijolos, cimento ou livros. É construída com encontros, descobertas e, sobretudo, com a coragem daqueles que cruzam fronteiras. Desde 2010, a SP Escola de Teatro tem se dedicado incansavelmente à arte de atravessar limites geográficos e culturais, promovendo encontros que ultrapassam continentes e aproximam realidades distintas. Já são […]
CRÔNICA | O tempo é um sujeito impiedoso
Fiquei pensando em uma frase que li ontem, amplamente atribuída a Shakespeare, mas que, ao que tudo indica, teria sido escrita por Henry Van Dyke, que diz: “o tempo é muito lento para os que esperam, muito rápido para os que têm medo, muito longo para os que sofrem, muito curto para os que festejam. […]
ADEUS | Para Silvio, com Teatro
Silvio Pozatto desviveu hoje. Para falar de morte, desviver é verbo que eu prefiro. Não se trata apenas de morrer, mas de deixar de pulsar num mundo onde a presença era mais que corpo. Era gesto, luz, voz, memória. Silvio era dessas presenças que habitam mais do que ocupam. Um homem de cena e de […]
CRÔNICA | Manual de Sobrevivência para Quem Quase Descansa
Há quem diga que férias são um direito. Há quem diga que são um luxo. Eu digo que são uma miragem. Belas e cintilantes, dançam diante dos olhos como promessa de descanso, mas, quando a gente chega perto, elas escorregam feito sabonete em vestiário coletivo. Na semana que vem, parto de férias. Ou melhor, […]