Se você me encontrar com relógio e anel, saiba: naquele dia eu sou psicanalista. Não que, sem eles, eu deixe de ser. Mas eles, de alguma maneira, me lembram do ofício. No dia a dia, aliás, nunca usei relógio. Nunca. É como se meu pulso tivesse aprendido, desde menino, a respirar fora do tempo. E, […]
CRÔNICA | Um amor que conhece a despedida
Hoje conheci um pouco mais do amor. Eu o descobri na penumbra, no intervalo entre um gesto e outro, no silêncio onde ele se esconde. Sei mais agora – não tudo, nunca tudo – sobre esse amor que não pede licença nem explicação, que se entranha no cuidado e já nasce com a dignidade de […]
OPINIÃO | O avesso do espelho: uma pequena leitura de “A Médica”
Incrível, mas tanto o teatro como a psicanálise não têm medo de tocar naquilo que não se pode dizer. E A Médica, texto de Robert Icke sobre a matriz de Schnitzler, de 1912, dirigido por Nelson Baskerville no Auditório do MASP, é exatamente isso: um dedo no ponto onde a ferida insiste em não cicatrizar. […]
PSICANÁLISE | O poder do ponto final
A psicanálise nunca nos prometeu respostas. Não é desse tipo de ciência que se ocupa. O que ela nos dá, na melhor das hipóteses, é um mapa das nossas feridas. Uma cartografia das dores, com suas cores e suas margens borradas. As respostas, se é que existem, estão sempre além do consultório. O que ela […]
LETRAMENTO | Renda-se: quando a fúria se veste de silêncio
Ontem fazia um frio danado em São Paulo. Sair de casa exigia um pequeno heroísmo. Foi assim que cheguei ao Sesc Ipiranga para assistir à última sessão de “Renda-se”, texto da britânica Sophie Swithinbank, interpretado por Martha Nowill e dirigido, com precisão e risco, por Fernanda D’Umbra. Uma daquelas experiências raras que continuam a nos habitar […]
DECOLONIALIDADE | O grito e as brechas
Algumas escolas de teatro ensinam a projetar a voz, a entrar em cena, a cair com elegância. E outras escolhem, com uma certa teimosia poética, ensinar a cair do mundo e refazê-lo. Um pedaço por vez, como quem varre a casa depois de um terremoto. A Ernst Busch, em Berlim, é dessas que, apesar do […]
CRÔNICA | O tempo é um sujeito impiedoso
Fiquei pensando em uma frase que li ontem, amplamente atribuída a Shakespeare, mas que, ao que tudo indica, teria sido escrita por Henry Van Dyke, que diz: “o tempo é muito lento para os que esperam, muito rápido para os que têm medo, muito longo para os que sofrem, muito curto para os que festejam. […]
CRÔNICA | Manual de Sobrevivência para Quem Quase Descansa
Há quem diga que férias são um direito. Há quem diga que são um luxo. Eu digo que são uma miragem. Belas e cintilantes, dançam diante dos olhos como promessa de descanso, mas, quando a gente chega perto, elas escorregam feito sabonete em vestiário coletivo. Na semana que vem, parto de férias. Ou melhor, […]
REFLEXÃO | Manual de Improcedência Cênica Aplicada à Web 2.5 ou Uma defesa para Debora Bloch e Paolla Oliveira
Há uma nova cepa de especialistas nascendo a cada semana nas redes sociais, especialmente no Instagram e no TikTok. Entre receitas de banana caramelada e reels com frases de Clarice Lispector que ela nunca escreveu, surgem também os críticos performáticos, sempre prontos a salvar a arte dela mesma. Um deles, muito aplicado, resolveu se debruçar […]
CRÔNICA | O Segredo dos Afetos
Aqui em casa moramos dois humanos. Mas quem manda são elas. Duas gatas e uma cachorra. Embora, se formos justos, talvez devêssemos dizer: duas presenças felinas enigmáticas e uma criatura solar que ainda acredita que o mundo é um parque de amizades. Neuza, Faustina e Lupita. Cada uma com sua história. Cada uma com sua […]
