A VIDA DA GENTE | Sobre privilégios (ou preconceitos)

Sobre não ajudar alguém na rua que te pede algum socorro, com a justificativa de que a pessoa vai comprar drogas e etc, é resposta de alguém que sempre teve o privilégio de não ter sentido no corpo a dor da fome.

Minha mãe sempre dizia:

— Se pedem pelo amor de Deus, dê pelo amor de Deus!

Fui ao supermercado hoje e, na entrada, um garoto, uns 15 anos, veio me vender alguma coisa, dizendo que precisava comprar leite para o irmãozinho. Fiquei desconfiado, ele estava bem vestido.

Não tinha dinheiro, mas perguntei o tipo de leite que ele queria. Me respondeu que qualquer um. Comprei uma caixa com 12 unidades e, na saída, não encontrei o garoto de pronto. Achei que tinha caído no conto do vigário, como em outras ocasiões.

Mas, de repente, lá vem ele em minha direção. Entrego a encomenda e o garoto, era evidente em seu olhar, não acreditava no que via. Depois de agradecer, caminhou rapidamente ao encontro de um homem mais velho, talvez seu pai. Ele mostrava a caixa de leite pro homem, que sorria muito. Reparei, também. O homem não aparentava desleixo e devia ser bem mais novo do que eu.

Entrei no carro e, por algum tempo, ainda conseguia vê-los, agora saindo rapidamente do estacionamento, em direção à casa deles, provavelmente.

Nossa, senti um aperto no coração. E uma vontade maluca de sair correndo atrás deles para abraçá-los.

Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
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