Novas diretrizes em tempos de guerra

Ontem foi um dia agitado. Atuei em duas sessões de “As Mariposas”, às 18h e às 22h, e apresentei “1991 ou a Imperfeição do Amor”, às 20h. Hoje, logo mais, às 21h, no Clubhouse, abro meu coração em “Todos os Sonhos do Mundo”.
 
Terças e quartas-feiras são os únicos dois dias que não tenho apresentações. Mas durante todo o dia, com exceção das terças, tenho trabalhado na SP Escola de Teatro. Menos terça porque é dia do meu curso de psicanálise no Cepsi, da Usp/Unip.
 
Mas quando digo que tenho as noites das terças e quartas-feiras livres estou mentindo. Porque é dia de participar de lives que, cada vez mais, surgem de todos os cantos do planeta.
 
Pra vencer esse tempo maluco, me joguei no trabalho, como um obstinado. E fui salvo por esta obstinação. Fui preenchendo todos os meus horários e, assim, colorindo os meus dias.
 
Esta semana completo um ano isolado, vivendo aqui, em Parelheiros. Jamais pensei que viveria por tanto tempo neste lugar, embora nos últimos meses tenha me dividido entre a zona sul e o centro, onde fui por duas ou três vezes na semana.
 
Aprendi a me levantar muito cedo, muitas vezes às seis da manhã, e passear pelo campo com meus cachorros, o Chico e a Cacilda. Tempo para me sentar em algum tronco de árvore e ler. Tenho lido Freud obstinadamente. E descobri um grande novelista, rs. A apresentação de seus casos, a partir de descrições clínicas, são sensacionais. Poucas vezes na vida aprendi tanto.
 
Mas ando impressionado mesmo com os amanheceres. Embora tenha convivido com a natureza na infância e adolescência, vou me surpreendendo com as minhas alvoradas. Não me lembrava mais de como os pássaros enlouquecem pelas manhãs, como cantam e dançam!
 
Mas, não. Não está tudo bem. Sei que estou vivendo em uma bolha e não me basta ter encontrado um jeito muito particular para suportar tudo isso. Penso todo dia: quantos dos meus amigos estão sofrendo neste momento? Quantos não conseguiram girar a roda e chegar nessas minhas manhãs mágicas? Seja pelo simples fato de não terem tido condições emocionais para suportar o peso deste momento, ou simplesmente porque não quiseram ou não souberam ou não tiveram meios para ultrapassar essa barreira, que é de medo, muito medo. Porque o tempo, agora, é mesmo este, de medo. Estamos em guerra!

+++ essa foto eu tirei no fim do mundo, ushuaia, patagonia, argentina

Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
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