Um livro que propõe novas formas de relação entre seres humanos e animais

Foi uma amiga que disse que eu precisava ler “Sobre os Ossos dos Mortos”, lançado no Brasil pela Editora Todavia no final do ano passado, porque era “uma parábola para entender a contemporaneidade”. Sua autora, a polonesa Olga Tokarczuk, ganharia, na mesma época, o Nobel de Literatura e Prêmio Booker.

Eu estava em Portugal e fui atrás do livro que ainda não havia sido lançado no Brasil. Assim, eu li a tradução portuguesa intitulada “Conduz o Teu Arado Sobre os Ossos dos Mortos”, da Editora Cavalo de Ferro.

A narradora da obra é Janina Duszejko, engenheira e construtora de pontes, inclusive na Síria, que abandona tudo para viver em uma remota cidade no interior da Polônia, afim de cuidar de animais e dedicar-se ao estudo da astrologia, enquanto lê os poemas de William Blake, uma de suas paixões.

Janina prefere a companhia de animais a de humanos, faz às vezes de corretora, cuidando de algumas casas para aluguel, enquanto sabota armadilhas de caçadores de animais silvestres. Até que, de repente, alguns destes caçadores começam a morrer misteriosamente e nossa narradora vai querer saber quem está por trás daqueles crimes que aterroriza os moradores de sua região e também a polícia.

Algo comum entre os delitos: os animais irão deixar suas marcas em todos os cenários destes crimes, como verdadeiros gritos de socorro.

É exatamente aí que o livro, que parecia ser um romance rural, vai propor interessantes discussões filosóficas sobre o mundo contemporâneo, sobre a vida e a morte. E também é quando a obra se revela “uma parábola para entender a contemporaneidade”, como afirmara minha amiga, num misto de thriller psicológico com literatura fantástica.

Janina irá escrever cartas às autoridades para exigir que os crimes sejam solucionados, enquanto milita pelo vegetarianismo e faz previsões astrológicas.

Neste momento, as investigações dos crimes se transformam em buscas existenciais e descobriremos que estamos diante de um livro que fala, sobretudo, das relações dos humanos com os animais de maneira urgente e complexa.

Olga Tokarczuk nasceu em Sulechów, uma pequena cidade da Polônia, em 1962. Psicóloga de formacão, publicou o seu primeiro livro em 1989. No Brasil, teve sua obra “Os vagantes”  publicada pela Tinta Negra que, soube agora, será reeditada pela Todavia com o título de “Viagens”.


Aqui, um capítulo de “Sobre os Ossos dos Mortos” 

 

“Sobre os Ossos dos Mortos”
Olga Tokarczuk
tradução de Olga Bagińska-Shinzato
Editora Todavia

Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
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