Você comprou seu bilhete, entrou numa sala, cheia de público ansioso. Querem ver Fernanda Montenegro no seu último trabalho. Apagam-se as luzes. De repente, surge a grande atriz. E sua primeira cena já comove. Seus gestos, sua voz, a intenção de cada fala. Tudo leva você a uma experiência estética.
Isso é teatro?
Depende.
Se ela estiver ali em carne e osso, é teatro. Se ela estiver projetada em uma tela grande, é cinema. Teatro é a arte da co-presença (não da presença, unicamente). Cinema é a arte da telepresença espectral. Ambas as formas de arte podem emocionar, causar experiências arrebatadoras.
Há mais de um século, já temos formas de tecnopresença disponíveis. Nas últimas décadas, a telepresença passou a fazer parte de nosso cotidiano. Nossa vida tornou-se impossível sem ela. É o que eu chamo de condição ciborgue da humanidade, fenômeno típico do Capitalismo Informacional. Você que está lendo este meu texto agora está vivenciando uma forma de telepresença, pois eu não estou diante de você fisicamente, mas estou presente para você digitalmente.
O teatro digital é a arte da copresença tanto quanto o teatro tradicional. Mas com um elemento tecnológico que o transforma. O teatro digital é a arte da telecopresença.
Por isso, quando algum sacerdote do tempo sagrado chegar para você e clamar: ¨Teatro é a arte da presença!¨, pergunte a ele a qual presença ele se refere para que o debate possa ser encaminhado em termos mais objetivos.
+++ abaixo, comentário de um dos mais prestigiados jornalistas nigerianos que assistiu a produção afro-europeia de A arte de encarar o medo na semana passada