ANDREA, UMA DAS NOSSAS MENINAS

São seis transexuais que trabalham conosco na SP Escola de Teatro. Já falei sobre isso por aqui, muitas vezes. Talvez, o alardeamento dessa história se deva ao ineditismo do fato. Sim, quantos lugares você conhecesse que emprega travestis ou transexuais? Eu desconheço. Mas hoje não é sobre isso que quero falar. É sobre afeto este post.

Andrea veio do interior, ralou muito pela vida até nós nos conhecermos, há cerca de três anos. Chegou na SP Escola de Teatro cheia de sonhos e expectativas. É uma de nossas grandes funcionárias. Há pouco tempo, venceu um processo no Ministério Público que, enfim, reconheceu sua verdadeira identidade. Sim, Andrea tinha um nome masculino na certidão de nascimento. Graças ao Dinovan Dumas, nosso advogado, esse problema está resolvido. Hoje, Andrea é Andrea também em sua documentação.

Mas nem o maior roteirista do mundo teria imaginado um enredo mais emocionante para essa história. Andrea descobriu, há pouco tempo, um câncer no peritônio. E, desde então, vem lutando ferozmente contra a doença. Mas luta com uma energia tão, mas tão boa que faz com que a gente se sinta uma migalha perto dela.

Nos últimos dias – e de 20 em 20 dias –, Andrea faz quimioterapia. E imaginem o que essa moça vem passando. Segunda-feira foi um desses dias. E só hoje Andrea conseguiu voltar ao trabalho.

Fui recebido por ela agora de manhã. Estava na recepção, seu local de trabalho, toda sorridente. E, pasmem, feliz! Sim, vibrava pela vida com uma energia indescritível. Eu, que vinha de uma reunião tensa e querendo desaparecer desse planeta, me vi refletindo sobre a vida, depois do abraço demorado que trocamos.

Resolvi fazer uma selfie para brindar este momento. E saí, pensativo, mudando completamente meu humor. Afinal, o que sentia antes do encontro com a minha amiga era tão menor frente à imensidão da vida.

Sim, viver pode ser incrível.