Guilherme Sobota
Produtores de teatro da cidade de São Paulo se mostraram cautelosos com o anúncio dos planos de retomada das atividades para o fim de julho, mas também indicaram como importante a sinalização do governo do Estado para o setor, um dos mais atingidos pela pandemia do novo coronavírus.
O governo de São Paulo divulgou nesta sexta-feira, 3, regras que preveem a reabertura de cinemas e teatros ainda neste mês, em regiões que estão na fase “amarela” do Plano São Paulo, o programa de reabertura econômica. A previsão é de que esses setores possam iniciar o atendimento ao público a partir do dia 27 de julho, se permanecerem as tendências de redução dos índices de novos casos, internações e mortes por covid-19.
O anúncio se trata de uma antecipação. Essas atividades só estavam previstas, quando da apresentação do plano, para a fase “verde,” quando a epidemia estivesse menos grave. No caso da capital, as definições sobre novas datas de reabertura ainda não estão confirmadas.
“Foi positivo o governo ter considerado rever a fase de abertura também para eventos culturais”, comenta a coordenadora cultural da Aliança Francesa de São Paulo, Livia Carmona. “O setor está parado há mais de 100 dias, e muita gente depende ele, há um grande movimento na economia da cidade.”
Observar os protocolos de saúde, porém, é uma prioridade para ela. “Nossa instituição atua em várias frentes, então estamos fazendo essa reflexão em conjunto. Abrir o prédio é abrir diversos outros setores, não apenas o teatro. Temos uma visita técnica agendada para a próxima semana, e vamos pensar no que precisamos investir. Sempre com muita cautela, entendendo os processos e fazendo contas. Por enquanto, é um movimento de reflexão e avaliação.”
Cinemas, teatros e eventos só poderão atender com 40% da capacidade do espaço, com as pessoas respeitando a distância de um metro e meio entre elas e há a obrigatoriedade de que o público esteja sentado. O funcionamento é permitido por seis horas. A venda de ingressos deve ser feita exclusivamente pela internet, com assentos marcados e horários pré-agendados. Nesta fase, não é permitido o consumo de alimentos ou bebidas, a fim de que todas as pessoas permaneçam usando máscara. A pipoca no cinema estará vedada.
O ator, diretor e produtor André Acioli, gestor do Teatro Vivo, diz que foi pego de surpresa com o anúncio. “Há uma reflexão contínua sobre o que podemos fazer no teatro. Não podemos também entrar numa loucura para gerar um ‘efeito rebote’”, diz.
“Penso que a gente vai ter que voltar, com muita cautela. Tem que existir uma consciência muito grande de todos os lados: tipos de espetáculos, encenação muito bem elaborada, para manter a segurança do público e também dos artistas e da equipe. Enquanto teatro, vamos entender o protocolo e entender o que pode ser feito, como pode ser feito, para tomar uma decisão do período da volta.”
Em nota, a Vivo afirmou que “está acompanhando a evolução da pandemia para decidir o melhor momento para abrir o teatro visando a segurança da plateia, artistas e funcionários”.
A diretora geral da Amigos da Arte (instituição que faz a gestão do Teatro Sérgio Cardoso, do Teatro de Araras e do Museu de Diversidade Sexual, Danielle Nigromonte, também mantém a posição de prezar pelos protocolos de segurança. “Estamos atuando para que os colaboradores, produções, artistas e técnicos envolvidos em nossas atividades tenham atendidas todas as exigências de distanciamento, limpeza de ambientes e higiene pessoal, sinalização, dentre outras diretrizes. O retorno do consumo cultural presencial se dará de forma gradual, e ao público dedicaremos também atenção redobrada para que se sintam seguros em estar conosco novamente prestigiando a produção cultural de São Paulo, setor fundamental no desenvolvimento econômico do País.”
Já o Teatro Alfa informou que não vai voltar a abrir no fim de julho. “O Teatro Alfa contratou uma empresa para preparar o teatro para a retomada das atividades com nova certificação de protocolos de higiene e limpeza contra a covid-19. A consultoria será iniciada na próxima terça, dia 7 de julho, e depois de uma semana teremos os protocolos definidos”, informou o espaço via assessoria de imprensa.
O fundador da Companhia de Teatro Os Satyros, Ivam Cabral, também diz que não vê o retorno do funcionamento do espaço em um futuro próximo. “Temos um espaço muito pequeno, e se cumprirmos a flexibilização, conseguimos receber 11 pessoas. Em algumas montagens, só o elenco tem 15 atores. É completamente inviável e vamos permanecer fechados até a vacina ou que tenhamos segurança total. Teremos ações e projetos especiais, e talvez possamos recuperar possibilidades de alguma presença física. Entrar em temporada, esse ano não dá. Mas mesmo com os protocolos, eu não seria louco de abrir. Temos que ser muito responsáveis nesse momento.”
Ele acredita que os teatros maiores até poderão se adequar às regras, “mas os pequenos dificilmente passarão pelos protocolos”.
Fonte: O Estado de S. Paulo