Eu viajei no domingo, poucos dias depois da morte da Antonia. Tudo foi rápido nesta semana, não deu nem tempo pra sentir as coisas direito. Aqui, no Porto, também não foi diferente. Desde a minha chegada, muita coisa pra fazer, quase sem tempo pra mim. Ontem, cheguei em casa tarde, havíamos ido à Casa das Artes de Famalicão assistir à estreia do belíssimo “O Filho Pródigo”, o filme de Luisa Pinto e Carlos Coelho Costa.
Não sei se foi o impacto do filme ou a expectativa de ter que me levantar cedo no dia seguinte para participar do colóquio “Arte inclusiva? Quem inclui quem?”, o fato é que perdi o sono. Há muito tempo isso não me acontecia. Costumo dormir bem, muito bem, aliás. Mas ontem, socorro!
Eu, que estou hospedado numa casa do Airbnb, deitei e me levantei várias vezes, fui ao banheiro várias vezes também e à cozinha, muitas vezes. Mas parecia que eu não encontrava lugar no meu corpo. Nem meu corpo encontrava lugar naquela cama. Entre fechar os olhos e o desespero de pensar que precisaria estar pronto antes das 8 da manhã, acabei tendo uns sonhos, mesmo com uma sensação de que não tinha conseguido pregar os olhos um só segundo.
Os sonhos todos com gatos, muitos gatos. Com a Sofia, minha primeira, e com Antonia, que se foi há uma semana. Um misto de dor e saudade, sonhos que não eram pesadelos, mas que também não eram exatamente tranquilos. Sonhos de saudade de seres que jamais se encontrariam na vida real. A partir de agora, apenas nas fantasias, na memória e no imaginário.
Numa das vezes que fui à cozinha, sentia fome. Me lembrei que havia colocado as sobras do jantar em algumas tupperwares. Enquanto mexo nos vários potes, encontro uma pequena lata e a abro. É atum. Sinto uma pontada no peito e desabo. Era a comida da Antonia, dos últimos tempos. Nossa, poucas vezes na vida me emocionei tanto. Justamente eu que pensava conhecer muito sobre o amor. Deus, como somos ingênuos!
Acordei com saudade, muita saudade. E estou aqui, agora, escrevendo enquanto ouço um ou outro palestrante do simpósio. Às vezes o coração aperta e a sensação é a de que passei a noite toda a chorar.