No Satyros, há tempos, temos trabalhado com refugiados. Não foi um trabalho pensado e estruturado. Antes, foi o jeito que encontramos para abraçar esse pessoal que, de maneira absolutamente apaixonada, foi fazendo parte do nosso dia-a-dia.
Vocês já viram o olhar de um refugiado recém chegado ao Brasil? Eu vi. Muitos. E sempre me cortou o coração. Corta ainda, todas às vezes.
Também já trouxemos famílias desses refugiados, quando precisaram da gente. Mais de uma vez emprestei o meu cartão de crédito para comprar passagens para eles. Também os abraçamos, em acolhimento às suas dores, quando algum familiar em seu país morria e eles precisavam voltar para o último adeus.
Mas esta proximidade nem sempre resultou em histórias “heroicas” ou tristes. Até porque não tem heroísmo algum. Em retorno, a gente recebe tanto, mas tanto!
O último carinho veio da Nadège, que é haitiana e que, atualmente, trabalha na biblioteca da SP Escola de Teatro. Chegou no Brasil há cinco anos, mais ou menos. Trabalhou primeiro no Satyros e, há três anos é funcionária da Adaap, a associação que gere a SP Escola de Teatro.
Nadège não falava português – aliás, é bem comum um refugiado não saber falar a nossa língua. As das Nadège eram duas: o crioulo haitiano e o francês.
Mas, com o esforço que só as grandes guerreiras possuem, nossa amiga foi à luta e ontem me mandou esta mensagem aí, via whatsapp, comemorando a conquista de sua proficiência em língua portuguesa. E, de quebra, ainda me mandou muitos certificados de conclusão de cursos que fez nos últimos tempos. Muitos mesmo, esses quatro, aí, são “alguns” dos “muitos”!
Ah, Nadège também é cantora. Sopraníssima, adora fazer cover de Whitney Houston e Celine Dion. Quando a gente se encontrava nas festas da firma – sim, a pandemia nos tirou isso, também –, Nadège toda vez nos encantava com interpretações sempre inspiradas e apaixonadas.
Por aqui, hoje, meu coração é de muito, muito amor pela vida!