III: JANE MARY ESTÁ FELIZ

Quando Jany Mary chegou perto dos 60 anos, os meninos já não a esperavam mais no cafezal. E, compulsiva por sexo, começou a invadir a casa dos homens.

Eu devia ter uns 15, 16 anos quando descobri o porquê das visitas diárias de Jane Mary ao cemitério, que ficava no extremo da cidade, já na área rural.

 Depois de ser insultada pelos meninos menores, sempre num ponto próximo à igreja matriz, Jane Mary encontrava os meninos maiores, adolescentes, que a esperavam no cafezal, um pouco antes de chegar ao cemitério. E era ali que acontecia uma grande festa. Jane Mary adorava dar para os meninos.

Nunca soube como isso teve início. O fato é que Jane Mary, antes de entrar no cemitério e se prostrar, durante minutos infindáveis na sepultura da avó materna, dava sempre uma paradinha no cafezal do Zió, onde os meninos maiores a esperavam.

Eu cheguei a participar de um desses encontros, certa vez. Jane Mary, que nesta época tinha por volta de 40 anos, foi a minha primeira experiência sexual. Mas confesso que foi horrível. Jane Mary me passou gonorreia.

Mas ali, entre os meninos maiores, tudo era muito organizado. Jane Mary, que ia sempre com apenas um dos moleques, era respeitada em sua decisão. E era ela quem elegia o parceiro. Eu, fui escolhido logo na primeira vez. Mas sei de amigos meus que nunca conseguiram comer a Jany Mary porque nunca foram eleitos.

Por causa destes encontros com os meninos maiores no cafezal, Jany Mary engravidou três vezes. E era um problema enorme para a sua família que sempre tinha que submetê-la aos serviços da dona Amaranda, a parteira da cidade, que era responsável pelos abortos.

Fato é, que desde que Jany Mary começou a descer ao cemitério, sua família e toda a cidade, principiou a considerá-la com problemas mentais e a maluca do lugar. E não teve jeito. Não adiantou prendê-la, levá-la para passar uns tempos na casa da tia, no campo. Jany Mary sempre arrumava um jeito de fugir e voltar ao seu trajeto rumo ao cemitério.

Ao final do terceiro aborto, dona Amaranta sugeriu à família que amarrassem as tropas de Jany Mary. Isso garantiria mais tranquilidade a todos. E assim foi feito.

Quando Jany Mary chegou perto dos 60 anos, os meninos já não a esperavam mais no cafezal. E, compulsiva por sexo, começou a invadir a casa dos homens, sempre quando suas mulheres não estavam no local. Uma confusão que fez a pequenina cidade tremer.

Mas Jany Mary encontrou, finalmente a solução. Esperta, um dia bateu à porta do Asilo São Tomás de Aquino. Ninguém imaginava que Jany Mary, na verdade, estava ali em busca de prazer. E foi o Agnaldo, o tropeiro andarilho mudo, que não tinha passado e que chegara à cidade com a saúde muito debilitada e que há anos era um dos internos do lugar, que assanhou-se com Jany Mary.

A história terminou feliz. Como os dois, mais de 70 anos, adoravam sexo, a família de Jany Mary, que não tinha mais os pais vivos, resolveu oficializar a relação do casal.

Jany Mary entrou na igreja matriz vestida de noiva e hoje vive feliz numa das casas da Vila Agrária Municipal, no extremo norte da cidade. E sua irmã, Shirley Maria, sugere aos amigos que levem Viagra de presente ao casal. Porque muitas vezes o tropeiro Agnaldo não dá no couro.

Neste Carnaval, aproveitei a ida de um amigo à minha cidade, e enviei para Jany Mary três caixas de Viagra. E fico aqui torcendo para que o velho tropeiro a faça feliz.

Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
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