POR UMA FORMAÇÃO GLOBALIZADA

Na educação, a compreensão global cria uma dinâmica de mão dupla entre o formador e o aprendiz.

Milton Santos, no livro “Pobreza Urbana” (1978), afirma que não existe cidadania em um mundo dividido. Ele nos revela, ainda, que a cidadania carece de ser construída e isso implica em um sentimento de compaixão e de união para o bem comum. Para ele, o “cidadão do lugar” necessita ser reconhecido também como “cidadão do mundo”. Mas, e sabemos disso, este “mundo” não tem como regular os “lugares”.

Em busca de um espaço solidário, talvez possamos chegar a um lugar mais palpável – e, quiçá, encontrar algum equilíbrio – se somarmos a Santos algumas ideias do físico e ambientalista austríaco Fritjof Capra, que nos ensina: num sistema vivo e comunitário, existem relações de interdependência entre seus componentes, portanto, deve haver cooperação generalizada, reciclagem da matéria, tendendo sempre ao equilíbrio. Porque “os sistemas são totalidades integradas, cujas propriedades não podem ser reduzidas às de unidades menores. Em vez de se concentrar nos elementos ou substâncias básicas, a abordagem sistêmica enfatiza princípios básicos de organização”, como nos descreve em “O Ponto de Mutação” (1982).

Na educação, por exemplo, a compreensão global cria uma dinâmica de mão dupla entre o formador e o aprendiz. Confluem aptidões, autobiografias e visões de mundo em prol de uma formação contínua e polar. Para Capra, é somente dentro de uma visão sistêmica que poderemos compreender que os próprios objetos são redes de relações embutidas em redes maiores.

Na SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco, nosso esforço é pela construção de intercâmbios, de maneira horizontal, em todos os setores. No entanto, esta simbiose formador-aprendiz jamais poderá anular seus papéis nessa relação. Porque, neste caso, a ideia de não hierarquia refere-se especificamente aos conteúdos programáticos e não à relação entre um e outro. Em nossa Instituição, o conhecimento avança na escala dos trabalhos prático e reflexivo, concomitante ao ritmo conjugado por aprendizes e formadores, ressalvando-se sempre a criticidade e respeito mútuos.

Assimilados na esfera da cultura e da arte do teatro, esses vetores constroem polissemia, ajudam a perceber o lugar como o espaço vivido e dotado de outras camadas.

Desta forma, e voltando a Santos, é possível pensarmos na solidificação de um espaço verdadeiramente solidário, se entendermos que a conquista, enfim, deverá ater-se à solidificação do indivíduo cidadão, que não é reconhecido apenas em seu lugar, mas que está conectado com o seu mundo.

Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
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