por Santiago Nazarian
Eu sei, muita gente tem. Terror ao teatro. Teatro é aquela coisa chata, insuportável, igual a ler. A diferença é que um livro é fácil largar no meio. Numa peça, você tem de ficar até o fim.
Mas se você insiste um pouquinho, se é de boa família, se tem boa educação, acaba lendo em quantidade e, uma hora, encontra o (primeiro) livro da sua vida. Daí te dá esperanças. Quem não sabe não há mais um? Quem sabe você não reencontra esse prazer de novo. E aos poucos você vai se acostumando a ler – não dá sempre o mesmo prazer, claro que não, mas se torna menos um estorvo. E com o tempo você já aprende a escolher melhor, já sabe o que pode te valer a pena, o que basta simplesmente evitar.
É a mesmíssima coisa com o teatro, embora a maioria das pessoas não passe do primeiro passo. Eu vou bastante, e já aprendi a gostar. Busco sempre um meio termo delicado – não tenho paciência com pecinha alternativa-amadora, mas também não suporto peçona televisiva. O que existe entre elas é arte. E de vez em quando se encontram umas pérolas.
Como a deliciosa peça da minha querida amiga Cléo de Páris, que fui hoje, na estreia, A Nossa Gata Preta e Branca, no Parlapatões. É uma peça divertidíssima, despretensiosa, delicada, feminina e muito engraçada. Grande mérito do texto (que também é da Cléo, da atriz Maria Casadevali e do diretor Tiago Leal) é brincar com esse mundinho teatral, a vida e os valores do ator. Tem muito de auto-crítica e auto-parodia. Adorei.