Chimamanda Ngozi Adichie: a Nigéria apenas como ponto de partida

Em 2012, fui apresentado a Chimamanda Ngozi Adichie (1977) por uma amiga sueca, Ulrika Malmgren, que me ofereceu uma edição de “Hibisco roxo”, que havia sido lançado no Brasil pela Companhia das Letras.

Naquele momento a escritora nigeriana já era saudada mundo afora e pouco conhecida no Brasil. Filha de pai professor e mãe administradora na mesma universidade do marido – foi uma das primeiras mulheres a ter um cargo importante em uma universidade na Nigéria; antes, ocupado apenas por homens. 

Chimamanda é hoje uma das principais vozes da literatura africana e uma das mais potentes do feminismo mundial. Antes de se tornar escritora, estudou medicina e farmácia. Mudou-se para os Estados Unidos aos 19 anos, quando decidiu abandonar medicina e estudar Comunicação e Ciências Políticas. 

“Hibisco roxo”, seu primeiro romance, foi escrito em 2003 e lançado no Brasil, pela Companhia das Letras, em 2011. Conta a história da adolescente Kambili, filha de um industrial ultraconservador e católico fervoroso, que cresce em um ambiente absolutamente tóxico. Abusivo, controla os filhos – e sua esposa, também – com regras rígidas e punições severas, sempre que seus filhos “pecam”, chegando a espancá-los muitas vezes. 

O livro tem muitas expressões em igbo, idioma da região e grupo étnico homônimo, sem nenhuma tradução, o que, inicialmente, causa alguma estranheza. Mas depois de iniciadas, as citações acabam tendo alguma curiosidade.    

A obra ganha contornos quando nossa narradora vai passar uma temporada na casa de Ifeoma, uma de suas tias, juntamente com seu irmão Jaja. A partir daí, a vida de Kambili irá se transformar radicalmente, principalmente a partir do momento que conhece um padre que terá que deixar a Nigéria por perseguição política e por falta de segurança. Mas são os hábitos e a maneira de viver e de ver a vida da tia Ifeoma que serão definitivos na trajetória da jovem narradora.

“Hibisco Roxo” é uma pequenina pérola, das mais sofisticadas. Sensível e extremamente humano, mostra os lados sombrios de nossa sociedade. A Nigéria, no caso, é apenas um ponto de partida. Se transportados, podemos associá-los com facilidade aos nossos universos, sempre tão próximos apesar de, em um primeiro momento, parecerem distantes e inapropriados.

 

“Hibisco Roxo”
Autor: Chimamanda Ngozi Adichie
Tradução de Julia Romeu
Companhia das Letras

Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
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