Um texto por dia

A partir de hoje, esse Terras de Cabral volta à ativa. Desde nossa última atualização lá se vão alguns anos. Um retorno que já chega atrasadíssimo. 

Nos últimos tempos, acho que me preocupei demais com as redes sociais – a impressão que dá é que nestes anos todos temos vivido dentro delas. Então, para acabar com esse negócio de “amanhã eu faço” – aliás, há meses estou matriculado numa academia de ginástica sob este pretexto e nunca apareci nos treinos – e pensando que hoje pode ser o dia, arregaço as mangas e lá vou eu!

Não acho que o que eu tenha a dizer seja importante ou relevante. Mas tenho certeza de que preciso de expressão. Não apenas das minhas. Uma interlocução, portanto, é o que estou propondo. Um espaço para debatermos coisas, falar de teatro, de música, de viagens, de livros. Tenho lido coisas incríveis, viajado para lugares inusitados, conhecido gente pra caramba.

Então a proposta é que seja um espaço de reflexões e interlocuções. Como, aliás, este sítio já foi. Tenho muitas saudades do início dos blogs, lá no final dos anos 1990, início dos 2000. Um tempo em que as redes sociais apenas engatinhavam.

Mas não acho que as redes sociais vieram para acabar com os blogs ou os espaços de reflexão. Pelo contrário. Tenho ouvido dizer que as pessoas não leem, não escrevem. E acho que esta informação não é verdadeira. Nunca, em toda história da humanidade, as pessoas escreveram – e leram – tanto! Tudo bem, podemos agora falar da qualidade dessa escrita. Mas vejo, sim, as pessoas se preocupando muito mais com o que escrevem e o que leem também. Tá certo que o desencontro entre estes universos é fruto do que vemos acontecer: estamos em um mundo onde não queremos o embate ou a reflexão. Cada um quer falar e fala o que bem entende, o que lhe vem à telha.

Há uns tempos temos ouvido uma palavrinha traiçoeira. Começou com o pessoal do teatro, mas foi entrando na vida das pessoas e, ultimamente, tenho ouvido com muita frequência: escuta. Pois saibam, meus queridos, que quem pede a escuta quer falar, antes de tudo. Ninguém que requer a escuta quer ouvir de verdade. Quem pede a escuta quer falar e falar muito. E acaba falando muita bobagem, claro. O filtro do discurso está justamente na sobreposição de linguagens, na dificuldade do diálogo. Se vem, assim vomitado, perde a força, vira baboseira.

Mas tenho entendido que vivemos, sim, o tempo da fala. As pessoas querem falar e falar muito. Sobre coisas que não se entende, também. E isso não é ruim, não. Porque, na elaboração deste discurso, construído muitas vezes sem reflexão e às pressas, surgem fios de lucidez, de assuntos que devem ser amadurecidos e refletidos.

Tenho aprendido a ouvir. Principalmente ouvir os mais jovens. Ah, a minha geração, tão cheia de certezas. Sim, parece que nós, os filhos dos anos 1980, não tínhamos a coragem dos habitantes que vieram antes de nós, mas trouxemos para o debate o discurso e o politicamente correto. Perdemos, meus senhores. Falhamos feio. O que vemos agora, portanto, é resultado do que plantamos e estamos colhendo exatamente o que se formou lá atrás.

Vixe, era pra ser um texto de retomada. Tinha pensado, inclusive, em falar da primavera e de esperanças . Sim, estamos em setembro, acabamos de entrar na estação mais otimista de todas. Não dá mais, é melhor parar pra não ser chato.

Estaremos juntos. Pra pensar e construir ideias juntos. Porque o que vale, de verdade, é o futuro. Precisamos começar a arrumar o mundo para os que virão depois de nós. O resto é conto de fadas. Sigamos!

Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
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