Quando o pessoal da programação das Satyrianas começou a trabalhar neste ano, pedi que pautasse o meu solo, “Todos os Sonhos do Mundo”, em horários que seriam desprezados por outros grupos ou produções. Tipo, seis, sete da manhã. E fiz um pedido: queria que me cedesse o maior número possível de apresentações. Uma exigência, no entanto, não queria os horários ditos nobres. Queria, de verdade, circular pela periferia do festival.
Assim, recebi a programação. Minha peça seria apresentada na quinta (14/11) às 17h; e na sexta, sábado e domingo em duas sessões corridas, 10h e 11h. No total, sete apresentações. Eu ainda faria, dentro do evento, três apresentações de “Mississipi”; uma participação na sessão do filme “O Filho Pródigo – Filme Concerto” e, como dramaturgo, em “Anna, você pode esperar” e “Uma Peça Para Salvar o Mundo”.
Literalmente, cheguei de Cabo Verde diretamente do aeroporto para o palco do Satyros Um, na quinta-feira, depois de 24 horas entre aeroportos e jet lag. E, como vocês podem imaginar, trabalhei pela Satyrianas como um maluco. Mas feliz. Encerrei há pouco a última das sete sessões de “Todos os Sonhos do Mundo”. E vi tanta, mas tantas coisas incríveis neste trajeto!
A primeira delas, talvez a mais surpreendente, foi ter me apresentado na manhã chuvosa de sexta-feira para três (!) espectadores. Tão lindo, tão mágico! O teatro como deve ser o teatro, em sua feição mais delicada e artesanal. E, sobretudo, com respeito e entrega que ele exige e merece.
A segunda, realizei um sonho. Pela primeira vez, Cacilda e Chico, estão comigo em cena. Já tinha atuado com o Chico em “O Inferno na Paisagem Belga”, uns anos atrás, mas só em algumas apresentações. Esta é a primeira vez que os dois estão comigo no palco, em todas as sessões. Realizei um dos meus sonhos que era trazê-los para o lado mais sagrado da minha vida, o palco.
Tem sido incrível o trajeto deste meu solo que, antes de estrear em São Paulo, já visitou três continentes, vejam só se isso não é um milagre? Antes de São Paulo, a peça que foi apresentada em dezenas de cidades pelo país, fez apresentações na Europa (em Portugal) e na África (Cabo Verde).
Ao teatro, devo minha devoção. É o lugar de onde tirei meus respiros, todos, e minha sobrevivência, que é única e sagrada. Por aqui, agradecido demais por ter vivido essas histórias todas. Que são de humanidade, nosso mais importante – e derradeiro – reduto.
Obrigado, São Paulo.
Relato muito emocionante, em todos os aspectos, Ivam! Parabéns!!
meu amor, <3