Fazia muito tempo que eu não chorava. Já fui mais chorão. Com o tempo, aprendi a engolir o meu choro. Mas nos últimos tempos não tenho conseguido contê-lo. Ando chorando como uma criança que perdeu o caminho de casa.
Não choro por mim, juro. Aos 56 anos, já tenho definida a minha vida. Pro bem ou pro mal. Não vai mudar muito até que eu me despeça deste planeta.
Tenho chorado pelos meus sobrinhos, pelos filhos dos meus amigos, pelos que virão. Tenho chorado pelo planeta que estamos devastando, dia após dia. Pelo meio ambiente que sangra, pelas minorias que agonizam.
Mas choro, sobretudo, pelas pessoas – familiares, amigos e até colegas de trabalho ou de elevador – que fecham seus olhos achando que é normal matar índio, indigente e até pobre. Como se pobreza fosse opção. Como se escolhêssemos nascer em condições sub-humanas.
E agora falo de privilégios. Tão mais fácil pra mim que vim de uma pequena cidade do interior do Paraná. Sempre penso: e se a minha pequenina cidade natal fosse no interior do Maranhão? O que teria acontecido com essa minha vida de superações? Ou dos meus pais? Dos meus irmãos? Que futuro teria nos aguardado?
Tão fácil nós, esses doces privilegiados, acharmos que a corrupção do PT é que foi o desterro do nosso país. Tão fácil dizer que o juiz, meu conterrâneo, é o salvador da pátria. Que triste, Brasil. Por que fechamos os olhos para este governo que odeia seu povo e apoia milicianos e bandidos? Por que a nossa régua tem que ser medida pelos que roubaram e mataram também?
Esse governo está tirando a educação e a saúde do nosso povo. Roubando o futuro do nosso povo. Exterminando de vez qualquer possibilidade de progresso. Sem pesquisa, sem ciência e sem cultura, o que restará? Um povo sem história é extermínio!
Não, claro que não estava legal antes. Claro que a nossa educação está sangrando há anos, décadas já. Nossa saúde também. Mas não era pra corrigir tudo isso que serviram as últimas eleições? Não saímos às ruas para exigir o fim da corrupção?
E agora o nosso presidente vem desmerecer seus cidadãos que contraíram o vírus do HIV, jogando sua população contra eles, dizendo que “é uma despesa de todos”. Claro que é uma “despesa” de todos nós. Como devemos nos responsabilizar pelos fumantes que contraem câncer de pulmão ou os que adoram doces e gorduras e adquirem diabetes. Mas o paciente do HIV é mais pecador, não é mesmo? Contraiu o vírus fazendo sexo. É esse o recado evangelizador que o presidente quis pregar?