NA MÍDIA: PEÇAS DE FESTIVAL REALIZAM EXPERIMENTOS COM CLÁSSICOS

Referências de obras escaladas para Curitiba vêm da Roma Antiga e de Goethe

A partir de autores do cânone, grupos montam espetáculos com acenos às artes plásticas, à dança e à performance

GABRIELA MELLÃO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Entre as estreias da 21ª edição do Festival de Curitiba há um movimento comum. Na busca por caminhos para o teatro contemporâneo, artistas e coletivos relevantes da cena do país releem clássicos.

Os grupos Ópera Seca, Galpão, Os Satyros e o encenador Marcio Abreu apresentam trabalhos inéditos que usam obras de autores de diferentes épocas, da Roma Antiga ao século 19, como base para experimentações.

Christiane Jatahy faz o mesmo com sua “Julia”, versão de “Senhorita Júlia”, de August Strindberg (1849-1912), que fica em cartaz até o fim do mês no Rio e compõe a mostra principal do evento.

“Não é bem teatro. Não sei bem o que é”, diz o diretor dos Satyros, Rodolfo García Vázquez, que faz de “Satyros Satyricon” -adaptação realizada por Evaldo Mocarzel da peça de 60 d.C. “Satyricon”, do escritor romano Petrônio- um projeto triplo, composto por duas instalações e um espetáculo performático.

O espectador inicia sua imersão por uma viagem sensorial. Passeia por uma espécie de Roma contemporânea, instalação em que contempla personagens que encarnam a solidão, o abandono da metrópole mas também sentimentos mais comezinhos.

O espetáculo propriamente dito estabelece uma relação entre os personagens que protagonizam os dois triângulos amorosos homossexuais da trama com michês do centro de São Paulo.

Na terceira parte da obra, o público participa de uma festa, ao lado dos atores que atuam como escravos do século 21.

“De Verdade”, trabalho solo de Marcio Abreu, diretor reconhecido por seu trabalho na curitibana Cia. Brasileira de Teatro, revisita o livro homônimo de Sándor Márai para investigar as relações do ator com o público. A dramaturgia vai sendo moldada a partir do contato e da reação dos atores a ela.

REFERÊNCIA LITERÁRIA



Os espetáculos “Eclipse”, do Grupo Galpão, e “Licht + Licht”, da Cia. Ópera Seca, nascem da rearticulação de trechos de obras literárias.

Dirigido pelo russo Jurij Alschitz, o primeiro marca a terceira imersão do coletivo mineiro no universo de Anton Tchékhov.

A peça é baseada em contos do autor e apresenta uma estruturada fragmentária, nova para um grupo habituado a fábulas.

Já Caetano Vilela faz, em “Licht + Licht”, uma colagem de pequenos excertos da obra de Goethe.

Neste que é seu segundo espetáculo no comando da seção paulistana do grupo fundado por Gerald Thomas, busca discutir o papel do artista na sociedade -e o faz de forma caótica, estilhaçada, misturando diversas linguagens artísticas, como teatro, ópera, artes plásticas, música e dança.

Vilela rejeita a compreensão tradicional de sua criação. “O entendimento não é importante. O que desejo é produzir uma experiência sensorial”, afirma.

Fonte: Folha de S. Paulo, 27 de março de 2012

Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
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