FESTA | A crítica de Athos Abramo

Foi bonita a festa! Literalmente, paramos a rua. Viva o Teatro e suas mulheres e seus homens! Viva a história e nossas ancestralidades!

Deixo aqui o meu texto para a apresentação desta obra, importantíssima não apenas para colocar Athos Abramo na galeria dos maiores críticos de teatro do Brasil, mas porque vem para nos indicar que havia muito mais coisas acontecendo no Brasil, entre as décadas de 1940 e 1960, além do suntuoso – e obrigatório e necessário e etc e tão – Teatro Brasileiro de Comédia, o lendário TBC.

A Recuperação da História do Teatro Brasileiro no Século XX pelas Críticas de Athos Abramo

Para o leitor contemporâneo, conhecer um período fundamental da história do teatro brasileiro por intermédio das resenhas de Athos Abramo é uma experiência singular. Não seria exagero dizer que o contato com essa obra será capaz de despertar uma impactante nostalgia tanto nos que viveram essa época quanto nos nascidos posteriormente a esse período em que houve a modernização de nosso teatro.

Como não se emocionar ao imaginar Cacilda Becker, ainda em início de carreira, no Grupo Universitário de Teatro, subindo ao palco “com animação lírica e vibrante delicadeza”? Ou a consagração de Antunes Filho como “um de nossos melhores diretores”, com seu “ritmo alado”, dono de uma direção “nervosa e brilhante”? A seleção de críticas primorosamente organizada por Jefferson Del Rios e Alcione Abramo, a partir de recortes de jornais guardados pela família e de fontes documentais do Arquivo Público do Estado de São Paulo, recupera a memória de alguns dos artistas mais geniais do século XX.

O volume traz Célia Helena (1936-1997), pronta “para galgar de uma só vez os degraus do estrelato”; o lado menos conhecido do professor e crítico Décio de Almeida Prado (1917-2000), o de encenador, apontado em resenha de 1945 não mais como “uma promessa e um amador” no campo da direção teatral, mas sim como “uma realidade”; Maria Della Costa (1926-2015) atingindo “um raro, inteligente, muito fino equilíbrio entre arte e sentimento, instinto e sabedoria, a que somente os melhores entre os melhores podem aspirar”; Oduvaldo Vianna Filho, “cuja endiabrada vivacidade” enfrentava “com agudeza a parceria de um ator da estatura de Paulo Autran” (1922-2007); o “rapaz” Raul Cortez (1932-2006) dividindo a cena com o “admirável” Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006) – ambos, aliás, viriam a falecer na mesma semana, triste coincidência.

O olhar apurado para o trabalho de grandes atrizes e atores se estende a espaços cênicos (como o Teatro de Arena e o TBC), iniciativas de excepcional relevância estética e política (Teatro Experimental do Negro), espetáculos emblemáticos (Roda Viva e Morte e Vida Severina, por exemplo), dramaturgos (Nelson Rodrigues), encenadores (Ziembinski, um dos catalisadores da renovação da cena no Brasil), cenógrafos (a internacionalmente reconhecida artista visual Maria Bonomi) e mais uma infinidade de ícones que – especialmente nesta atual conjuntura histórica de culto da banalidade e do ódio à cultura e ao conhecimento – não podem ser esquecidos.

Trata-se de mais uma publicação histórica do selo Lucias, levantamento inédito elaborado com todo o carinho pela Associação dos Artistas Amigos da Arte (Adaap) em parceria com o Itaú Cultural, a chegar aos leitores e pesquisadores de todo o país.

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