É Sempre Difícil Dizer Adeus

Em nosso último dia em Havana faço um breve balanço dos últimos acontecimentos.

Primeiro quero falar sobre a estreia de “Cosmogonia – Experimento Nº 1”. Fomos ovacionados. O público aplaudiu por quase dez minutos! E, ontem, o jornal “Perro Huevero” trouxe ótimas críticas tanto de “Cosmogonia” como de “Stranger… Estranho?”, o show da nossa diva, Phedra de Córdoba. Não encontro palavras para descrever nossa emoção. Sou um cara feliz.

O público de Havana já conhece bem os Satyros por causa do espetáculo “Liz”, que apresentamos aqui em junho de 2008 e a classe artística tem um respeito enorme por nosso trabalho. Prova disso foi que Os Satyros receberam o Prêmio “Honrar Honra – Jose Marti”, do Circulo de Amigos del Gran Teatro de La Havana “por su relevantes meritos artisticos”.  Viva! Mais bonito: fomos o único grupo do Festival de Havana a receber esta distinção, nenhum dos outros grupos – espanhóis, franceses, argentinos ou estadunidenses – recebeu tal consideração. Vindo de um povo tão especial e caloroso, sedento de cultura e conhecimento, isso nos honra muito.

Já contei que o Ministro da Cultura nos recebeu. Mas faltou dizer que essa foi a segunda vez que estive com Abel Prieto, um homem sensível e muito interessante. Também faltou contar que sem o apoio do pessoal da Embaixada do Brasil, do Ministério da Cultura e do Ministério das Relações Exteriores do Brasil não teríamos conseguido vir. Eles nos abraçaram calorosamente.

Além do encontro com o Ministro, nestes dias estive sempre acompanhado por uma gente muito amável. No sábado, jantamos na casa do Reinaldo Monteiro e sua esposa, Sahily Moreda, que atuou em “Liz” conosco. Estavam presentes também o adido cultural do Brasil em Cuba, Sergio Martínez González e sua esposa, Bethânia, e vários intelectuais da cena havanera.

Também acertamos uma semana brasileira aqui em Cuba para o próximo ano, na qual serão traduzidos e lidos textos da nossa nova dramaturgia. Devemos fazer o mesmo no Brasil, se o projeto encontrar aí tanto calor quanto encontrou aqui.

Durante nossa estada em Havana, fomos convidados ainda para muitas festas e recepções em casas de amigos cubanos. Tudo isso é muito especial por que ainda há muita dificuldade financeira por aqui. Eles te dão as próprias roupas, sua comida, sua esperança. E tudo isso é, de verdade, um sonho incrível.

Por enquanto não quero comentar nada sobre o regime aqui de Cuba. Não tenho condições ainda de avaliar o que é certo ou errado. Sei que as coisas aqui são diferentes, muito diferentes. Nem saberia dizer se melhor ou pior. Apenas diferente. Tudo diferente, mas tão especialmente lindo. O que acontece aqui não se pode analisar em pouco tempo, há muitas camadas nesta sociedade. Mais do que imaginamos. Cada vez que venho para cá, é como se retificasse minha relação com a arte, com a vida. Tudo tão efêmero.

Hoje voltamos ao Brasil e meu peito já se aperta.

Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
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