CRÍTICA: “SATYROS’ SATYRICON” TRAZ OUSADIA E ROMA ANTIGA AO PÚBLICO

A peça Satyros’ Satyricon deu início à Mostra XXX, a primeira com conteúdo sexual em 21 edições do evento. E bota sexual nisso. Deu certo! (foto: André Stéfano)

por Aldrin Cordeiro

A peça do grupo Os Satyros deu início a Mostra XXX, a primeira com conteúdo sexual em 21 edições do evento

Quem compareceu ao Espaço Cênico na noite de quinta-feira (29) presenciou um espetáculo no mínimo diferente para os padrões do Festival de Teatro de Curitiba. A peça Satyros’ Satyricon deu início à Mostra XXX, a primeira com conteúdo sexual em 21 edições do evento. E bota sexual nisso. Deu certo!

O público heterogêneo era formado por meninos e meninas jovens (claro, acima de 18 anos), assim como pessoas na casa dos 50. Todas curiosas para saber o que a companhia Os Satyros havia preparado para aquela noite ao longo dos últimos nove meses. Sexo, linguagem de baixo calão, poucas roupas?! Tudo pensado detalhadamente para o exagero cênico da direção de Rodolfo García Vazquez.

No local, o público era recebido para o primeiro ato: a “Trincha”. A instalação cênica contava com um Jesus que bebia cerveja e pedia para os mortais fazerem desejos. A partir dali, fotografias eram proibidas e um espaço com performances variadas era o destino. Uma jovem de camisola tocava no piano a canção “La Dispute”, de Yann Tiersen. Arriscamos falar francês, enquanto o aroma do vinho tinto que ela bebia tirava minha atenção. No decorrer, uma mulher distribuía currículos, em que “safadinha” era o eufemismo mais simples que eu poderia escrever nestas linhas para ilustrar o currículo sexual daquela senhora.

Com fragmentos da novela romana “Satyricon”, de Petrônio, escrita em 60 d.C., a peça propriamente dita começava no segundo ato. Adaptado pelo jornalista e cineasta carioca Evaldo Mocarzel, o projeto traz um triângulo amoroso homossexual com corpos tratados como mercadorias.

Cenas de nudez, com as nádegas ao alto, apareceram nos primeiros minutos do espetáculo para dar o tom do texto. Entre palavras sujas e impublicáveis, surpresas, como frases de sucesso da internet, foram catapultadas ao longo do espetáculo. No elenco, o entrosamento foi óbvio. Com diversas cenas de sexo, alguns corpos desnudos fizeram a plateia suspirar. Quem ver, entenderá…

Ao fim, “Suburra”, a “festa-performance” após a peça, chamou o público para interagir com os atores. O terceiro ato foi um “desbunde”. Uma rave com atores nus, fazendo ginástica, dançando e cantando na tentativa de animar os últimos presentes.

Faltou algo na plateia, que ficou um tanto quanto tímida com a desenvoltura d’Os Satyros. Quem sabe, se o vinho que vi na instalação cênica tivesse sido distribuído para todos, os atores não seriam os únicos sem roupa naquela Roma imaginária. Fica a dica para as duas próximas apresentações.

Serviço:
Satyros’ Satyricon Espaço Cênico (R. Paulo Graeser Sobrinho, 305), (41) 3338-0450. Sexta e sábado, a partir das 21h30.
1º Ato – “Trincha (Uma Instalação Cênica)”. Início às 21h30. Ingressos a R$ 40 e R$ 23 (meia-entrada mais taxa).
2º Ato – “Satyricon (A Peça)”. Duração: 40 minutos. Início às 22h15. Ingressos a R$ 50 e R$ 28 (meia-entrada mais taxa).
3º Ato – “Suburra (Uma Festa-performance)”. Duração: 70 minutos. Início às 23h59. Ingressos a R$ 40 e R$ 23 (meia-entrada mais taxa).
Pacote de ingressos para dois atos: R$ 80 e R$ 40 (meia-entrada mais taxa). Duração: 60 minutos.
Pacote de ingressos para os três atos: R$ 100 e R$ 53 (meia-entrada mais taxa).

Fonte: Gazeta do Povo, 30 de março de 2012

Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
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