SUJEITO HISTÓRICO | Confira um panorama geral da 1ª Edição do Seminário “O Sujeito Histórico do Teatro de Grupo do Estado de São Paulo”, ação da SP Escola de Teatro em parceria com o Itaú Cultural

Na última semana, a Adaap (Associação dos Artistas Amigos da Praça), Instituição ligada à Secretaria de Cultura e Economia Criativa de São Paulo e Gestora da SP Escola de Teatro, em conjunto com o Núcleo de Artes Cênicas do Itaú Cultural, promoveu a 1ª Edição do Seminário “O Sujeito Histórico do Teatro de Grupo do Estado de São Paulo”. O evento foi integralmente online e contou com 6 encontros que trouxeram debates com artistas e especialistas sobre o trabalho das diversas companhias teatrais dentro e fora da capital paulista.

Ao longo da semana, foram propostas múltiplas discussões para discorrer sobre tal assunto, que é fundamental e pouco abordado, nesse contexto, um dos objetivos da ação foi o de promover mais visibilidade aos trabalhos artísticos de grupos do interior e litoral paulista. Para Galiana Brasil, gerente do Núcleo de Artes Cênicas do IC, o seminário foi essencial e pioneiro por identificar a necessidade do reconhecimento da multiplicidade de coletivos teatrais em São Paulo. A gerente explicou que tal mapeamento é relevante para construção de uma memória cultural que possibilitará futuros estudos e pesquisas sobre o tema e, além disso, também permite ao público conhecer melhor como tais núcleos artísticos se estruturam na atualidade.

O fenômeno do teatro de grupo é um dos temas centrais de pesquisa da SP, que em 2021 celebrou seus 10 anos de existência com o lançamento do livro Teatro de Grupo na Cidade de São Paulo e na Grande São Paulo: Criações Coletivas, Sentidos e Manifestações em Processos de Lutas e de Travessias. Obra que traz um importante e pioneiro registro histórico com textos de 194 coletivos da Grande São Paulo, nos quais são apresentados seus repertórios, processos criativos, métodos de trabalho, principais parcerias e visões acerca da função do teatro. Tal projeto foi realizado numa parceria da Escola com a Secretaria Municipal de Cultura, e contou com a colaboração de historiadores, pesquisadores, críticos de teatro e artistas. Sua organização foi encabeçada por grandes nomes da cena teatral brasileira, muitos dos quais estarão presentes nas reuniões do Seminário, como Ivam Cabral, Alexandre Mate, Elen Londero, Joaquim Gama e Marcio Aquiles.

Veja a seguir um panorama geral do evento!:

Mesa de abertura e Mesa 1 :

O seminário teve início com as falas dos idealizadores do projeto: Alexandre Mate, Ivam Cabral e Carlos Gomes. Esses comentaram acerca de aspectos gerais do tema que foi tratado ao longo da semana. O diretor executivo da SP, Ivam Cabral, enriqueceu sua fala trazendo para o público uma reflexão sobre o poema Primavera, de Cecília Meireles:

“Eu quero agradecer ao Itaú Cultural, que abraçou esse projeto que nós estamos apenas começando. Esse processo tem sido muito interessante, é uma maneira que encontramos para deixar esse mapa (de coletivos) vivo em nossas vidas. Eu acho que estamos indo para o último tempo de uma partida muito difícil, estamos em um momento em que tudo pode mudar. Nós temos em nossas mãos a possibilidade de mudança, e eu estou chamando esse momento de primavera, e que com a primavera a gente consiga fazer esses trajetos todos. ”

Alexandre Mate, uma das figuras centrais na concepção e desenvolvimento da obra Teatro de Grupo na Cidade de São Paulo e na Grande São Paulo: Criações Coletivas, Sentidos e Manifestações em Processos de Lutas e de Travessias, também comentou um pouco a respeito da nova edição que será lançada pelo selo Lucias:

“Sou nutrido de muita esperança e talvez isso me traga alguma jovialidade. É surpreendente, do ponto de vista estético, o que o teatro paulista está desenvolvendo. Eu convido todos a conhecer o segundo volume, nele temos a oportunidades de conhecer melhor o trabalho de homens e mulheres, trabalhadoras e trabalhadores de teatro que não se submetem aos modelos impostos por algumas universidades. Nesse sentido, há uma antropofagia no que diz respeito ao que vem de fora e observamos que ninguém é subserviente as formas e modelos de fora daqui. “

 

Mesa 1

A Mesa 1 foi com Aline Prado, Luciano Draetta, Caio Martinez, Junior Brassalotti e Roberto Rosa. Nela foram investigadas as manifestações cênicas de artistas e coletivos caiçaras que apresentam seus trabalhos em espaços públicos como centros culturais, praças e praias do Estado de São Paulo.

Nesse contexto, Aline Prado, conceituada atriz da Cia. Pé de ator e pioneira nos estudos sobre o papel da artista deficiente visual na sociedade e na arte, compartilhou um pouco de sua experiência:

“No decorrer dos anos, tenho percebido a importância de olhar não somente para cidades grandes, como a grande São Paulo, mas também de desmembrar tudo isso, enquanto curso, formação e enquanto coletivo, porque aí sim iremos semeando arte e coletivos da cidade. A partir da minha vivência dentro da Cia. Pé de ator posso afirmar que, apesar do contexto, nós continuamos na resistência, fazendo arte pela arte, mesmo sem grandes patrocínios, porque o importante é deixar o teatro vivo. O teatro é ser vivo, é a arte de estar em todos os lugares.”

 

Mesa 2

A mesa 2 trouxe para o público reflexões sobre as festas e rituais populares que propõem formatos híbridos de representação e como os modos de produção contemporâneos teatrais se constituem. Quem participou dessa discussão foi Fabiano Muniz, Miriam Vieira, Flávio Melo, Antonio Chapéu, André Ravasco.

Nesse contexto, a produtora cultural e diretora, que já foi Secretária da Confederação de Teatro Amador do Estado de São Paulo Miriam Vieira compartilhou um pouco de sua carreira, contando mais da sua relação com o caráter coletivo do teatro de grupo:

“Quero agradecer por esse convite especial, sou uma mulher nascida e criada na baixada santista, trabalho com teatro há 45 anos, e desde sempre tenho partido de um entendimento coletivo dessa arte. Fui criada em uma família com muitos irmãos e muitas festas e brincadeiras coletivas. Fazíamos sempre festas de mutirão, muito grandes, e na minha família tudo se repartia, então eu aprendi a me relacionar dessa forma. Nesse sentido, a minha atuação dentro do TEM (Teatro em Movimento) foi transpassada por essa pré-disposição ao coletivo. ”

Além disso, Miriam pontua a importância da abordagem de tal temática dentro de seu contexto litorâneo:

“Esse resgate do teatro caiçara é muito significativo e faz parte do trabalho de diversos coletivos locais, que bebem na fonte caiçara, a qual compreende toda a faixa litorânea. Nesse contexto, como uma pessoa que viajou o Brasil inteiro, tive oportunidade, de ver as potencias as quais não podem ser apagadas, e observar o quanto é necessário que a nós recontemos essa história para os nossos e para os todos, todas e todes, porque se não nós nunca teremos referências que possam ser documentadas. “

 

Mesa 3

A mesa 3 contou a participação de Ricardo Bagge, Talita Neves, Weber Fonseca, Laís Justus Ferez, Barbara Teodosio. Nela foram abordados regiões dentro de São Paulo, que foram berço de inúmeros artistas decisivos no panorama nacional, a exemplo de José Celso Martinez Corrêa (Araraquara) e Hilda Hilst (Jaú), Timothenco Wehbi (Presidente Prudente). No encontro, foi também discutido como a instalação de diversas universidades nesses territórios fortaleceu interdisciplinaridades e encontros potentes que derivaram em arte.

Nesse contexto, Laís Justus, que é professora, pesquisadora, autora e faz parte do coletivo Cigarraiada, ministrou, a partir de uma perspectiva histórica, como foi o início da atuação teatral em Araraquara:

“Araraquara tem uma cena cultural agitada. Foi em 1935, que a cidade recebeu a primeira escola de dança, a Escola de Belas Artes, e apenas nos anos 1950 que surgiu na região o TECA (Teatro de Comédia de Araraquara). Nesse início, tal grupo foi muito importante e possuiu uma produção muito significante, demonstrando uma arte que bebeu de muitas fontes, principalmente do TBC – Teatro Brasileiro de Comédia. ”

 

Mesa 4

Os convidados da mesa 4 foram Tiago Munhoz, Claudio Mendel, Jorge Vermelho, Alexandre Melinsky e Raquel Rollo. Nesse encontro, foram pautados eventos teatrais de todos os portes em regiões do interior de São Paulo, como o Festival Santista de Teatro (FESTA), Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto (FIT), o Festival Nacional de Teatro do Vale do Paraíba (Festivale) e o Festival Nacional de Teatro de Piracicaba (Fentepira), os quais acontecem há décadas e movimentam uma intensa troca de saberes e experiências artísticas.

Nesse contexto, Raquel Rollo, que é atriz, cantora, produtora e cofundadora da Trupe Olho da Rua, grupo de teatro de rua de Santos em atividade há 20 anos, contou sua experiência como profissional da arte dentro desses eventos:

“Aqui no Brasil é muito difícil a mulher trabalhar com arte. Dentro de um estado, os festivais e coletivos são muito variados, mas ao mesmo tempo nós vivemos questões parecidas e sempre podemos estar em troca. Nesse sentido, o intercâmbio, promovido pelos festivais, faz com que possamos estar em vários profissionais que são referências e isso é importante e fortalecedor. No período de pandemia isso foi fundamental e interessante, pois o coletivo faz com que nós nos preocupemos com o outro. “

 

Mesa 5

Na mesa 5, Tiche Vianna, Rafael Bougleux, Fernando Ávila, Marcio Aquiles, Daniele Santana, Stefany Cristiny discutiram como as conexões militantes e articulações pedagógicas de artistas independentes e coletivos em rede permitem a circulação de trabalhos e a expansão de oportunidades profissionais por meio de redes afetivas, tecnológicas ou políticas.

Nesse contexto, Daniele Santana, atriz e gestora cultural do Grupo Contadores de Mentiras, explicou como o coletivo, do qual faz parte há mais de 20 anos, atua dentro desse contexto:

“Estamos em Suzano há 27 anos. Se manter em uma cidade onde não chegam tantos recursos, não fazer o êxodo para a capital foi uma escolha política, a qual trouxe outras formas e maneiras de ver a produção teatral e artística do nosso espaço, e também de olhar para nós como criadores, para sabermos quais são as ferramentas que podemos utilizar, estando fora de um eixo de produção. “

 

Mesa 6

Na mesa 6, Míriam Fontana, Thiago Leite, Eduardo Okamoto, Paula Bittencourt e Zeca Sampaio encabeçaram o debate. Na conversa, partiu-se do pressuposto de que o Estado também possui, fora da Grande São Paulo, inúmeras cidades de grande porte populacional, como Campinas, Ribeirão Preto e Sorocaba, por exemplo. Para assim, refletir sobre formas de potencializar as iniciativas culturais e o fomento público para o desenvolvimento artístico e econômico desses territórios.

Nessa conjuntura, Zeca Sampaio, ator, diretor, dramaturgo e pesquisador de teatro, pela FEUSP, expôs um breve panorama histórico do fomento artístico no Brasil:

“No que diz respeito às relações entre a arte teatral e o fomento público, existe uma longa história no Brasil. Na época de 1970, conseguir um apoio era mais complicado, as políticas públicas de fomento começam a aparecer apenas na década de 1990 e, ainda assim, com um forte viés neoliberal. Para mim, as leis de fomento vão surgindo a partir do momento em que os grupos vão se mobilizando, nesse sentido, os lugares que conseguem mais leis de fomento, são aqueles que tem um movimento teatral mais ativo. Por exemplo, o movimento teatral da baixada é forte e lá em Santos foi feita uma lei municipal de fomento.”

 

Fonte: SP Escola de Teatro

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