Mas há tanta tristeza e desolação por ali que sequer consigo me mover. Ensaio uma despedida mas as pessoas continuam a puxar conversa. — Na semana passada ela me abraçou forte. Foi um abraço estranho. Me apertou contra a parede e tinha um olhar esquisito. Falou com voz de homem: Me dá um abraço. Enquanto […]
Razão e sensibilidade
Então ele voltou. Eu chego no teatro pra fazer “Cabaret Stravaganza” e ele está sentado numa das mesas do café do Satyros, bebendo uma cerveja. Fazia muito tempo que não nos víamos. — Agora sou um cara sério, responsável, tenho uma filha pra cuidar, me revela. Eu juro que estou emocionado. A última vez que […]
Primeiros sonhos
Durante quase toda a minha infância, meu pai trabalhava fora da minha cidade. Visitava a família uma vez por mês quando trazia o dinheiro para as despesas de casa. Muitos tropeços aconteceram nestas idas e vindas. Num desses, trabalhando em São Paulo, foi assaltado na rodoviária do Tietê. Chegou em casa numa manhã, numa depressão […]
Sangrando
Aconteceu num domingo, há uns poucos meses. Eu e Cacilda, nossa vira-latas mais linda do mundo, estamos passeando pelo centro da cidade. Depois de uns giros pela feirinha da praça da República e pelas avenidas Ipiranga e São João, chegamos à nossa Roosevelt. Estou sentado na borda de uma floreira em frente ao Espaço dos […]
Quanto vale a vida da gente?
Eu fiquei com vergonha de perguntar o seu nome. Afinal, às seis horas da tarde de uma sexta-feira chuvosa, perdido em Parelheiros, sozinhos em uma loja de conveniência de um posto BR, eu não queria que ela, bem bonita, pensasse que eu estava ali para um xaveco. De verdade, estava interessado em saber mais sobre […]
Tristeza nunca mais
Aconteceu uns anos atrás, quando estreamos “O Anjo do Pavilhão Cinco”. Após a apresentação, houve uma pequena recepção para os convidados. Uma noite especial, com pessoas especiais. Estavam lá, Aimar Labaki, Dráuzio Varela, Regina Braga, Paulinho Vilhena, Jorge Takla; além do Emílio Di Biasi, nosso diretor, o elenco da peça e o pessoal dos Satyros. […]
Eu não quero esquecer
Há anos sou morador do centro da cidade e costumo caminhar pelas suas ruas. Principalmente às noites, quando seu ritmo e luzes diminuem as intensidades. Aconteceu há um tempo. Três ou quatro anos atrás. Nesta época, eu vivia na Avenida São Luis e, mais ou menos umas 11 horas da noite, caminhava pela Praça da […]
Protasio Anjo do Espírito Santo, o filho da dona Liversa, e Lucinha Ziroldo que cantava vestida de Chapeuzinho Vermelho
Dizem que quando nasceu, Protasio Anjo do Espírito Santo não chorou. Ao invés disso, cantarolou. A irmã Milena, que trabalhou a vida inteira na Santa Casa de Misericórdia e que assistiu ao parto da dona Liversa, a mãe do bebê, foi testemunha: — Uma belezinha, depois de um silêncio, cantou a “Ave Maria”, de Gounod. […]
Eu, pecador
Quando eu vivia em Lisboa, amava passear por suas ruelas nos finais de tarde, principalmente no verão. O pôr do sol da cidade é das coisas mais inacreditáveis que já vi. Aliás, Lisboa é afamada por sua luz, especialmente entre primavera e verão. Nestes passeios, descobri coisas inacreditáveis, conheci pessoas incríveis e vivi situações que […]
Eu era feliz e sabia disso
Hoje tocou Piazolla no rádio. E eu me lembrei de tantas, tantas coisas. Em 1985, eu estava no primeiro ano do curso de Artes Cênicas da Fundação Teatro Guaíra e PUC/PR, em Curitiba. Naquele período, estava aprendendo muito. Havia interrompido um curso de Administração de Empresas no quarto ano, tinha 21 anos e o mundo […]