por Michel Fernandes
No que diz respeito às experimentações cênicas de grupos consolidados em sua carreira, mas de inquieta investigação de novas formas de se comunicar com seu velho e conhecido público, o Cabaré Stravaganza, d’ Os Satyros, é um dos mais instigantes espetáculos em cartaz por apresentar uma linguagem híbrida – utilizando interpretação performática, dança, artes plásticas-visuais, tecnologia e palavras, cuja verve poético-musical cinde-se com a música – o que dá ao espectador papel de co-criador dessa instigante experiência sensorial.
Sem um enredo calcado na fábula tradicional, o espetáculo não pode ser descrito em sua história, mas, também, não podemos considerá-lo como fruto de dramaturgia fragmentária da qual se vangloriam os pós-qualquer-coisa.
Cabaré Stravaganza funciona como uma sinfonia multidisciplinar com variações sobre um mesmo tema, sendo o tema o universo tecnológico, a cada segundo mais avançado, e as “variações”, as formas como o ser humano se relaciona com ele.
O espetáculo provoca um auto-questionamento que nos segue dias depois, já fora da realidade fictícia do qual o espaço teatral é cúmplice.
Aliás, o limite entre ficção e verdade é um dos vetores da interpretação do elenco, em que a história biográfica de atores como Robson Catalunha é tratada com tal naturalidade que nos deixa na eterna dúvida a respeito do sobrenome dele, motivo sobre o qual gira boa parte do seu discurso. O ator cria uma intimidade surpreendente com o público e nos faz refletir sobre as diversas realidades presentes em uma só pessoa.
Outros dois bons exemplos dessa patinação entre a realidade e a ficção estão nas performances de Henrique Mello e Phedra D’ Córdoba, esta exuberante e de vigor surpreendentes.
Uma das composições em que o ator Ivam Cabral narra sobre os indivíduos conectados em distintos pontos geográficos, há sensação de podermos ser tão onipresentes como Deus, de que a tecnologia quebra as barreiras que dividem os povos, mas, ao mesmo tempo, fica a pergunta: será que não existe um controle por trás da Rede, uma espécie de Big Brother à George Orwell? Possibilidade assustadora!
Creio ser a cena em que Cléo de Paris e Fábio Penna, no que deveria ser um encontro amoroso, a descrição fria dos corpos um do outro, o melhor exemplo da crítica de que a tecnologia pode fazer do ser uma máquina.
Rodolfo García Vázquez , além da direção , assina a iluminação, juntamente com Léo Moreira Sá, que é personagem vivo da plástica do espetáculo, cuja cenografia – que é uma instalação plástica tomando de branco o espaço cênico, em que a luz complementa os véus-telas transparentes, e os belíssimos figurinos de Daíse Neves, complementam esse visual de rara beleza, impossível de não provocar nosso aparelho sensorial.
Ficha Técnica:
Direção: Rodolfo García Vázquez
Assistente de direção: Esther Antunes
Elenco: Ivam Cabral, Gustavo Ferreira, Phedra de Córdoba, Cléo de Páris, Andressa Cabral, Marta Baião, Henrique Mello, Fábio Penna, Júlia Bobrow, Robson Catalunha e José Alessandro Sampaio e a participação especial de Leo Moreira Sá.
Dramaturgia: Maria Shu
Figurino: Daíse Neves
Adereços: Daíse Neves e Milton Fucci
Cenário: Marcelo Maffei
Iluminação: Rodolfo García Vázquez e Leo Moreira Sá
Sonoplastia: Ivam Cabral
Apoio coreográfico: Kátia Kalsavara
Fotografia, identidade visual e video: Rodrigo Meneghello
Assessoria tecnológica: Gustavo Minghetti
Adereços eletrotecnológicos: Carlos Orelha
Consultoria digital: Daniel Guth, Julia Bobrow, Robson Catalunha e Bob Wei
Criação de Hotsite: Bob Wei (ChinArt)
Operador de som: Elder Nunes
Operador de luz: Leo Moreira Sá
Preparação vocal: Gerson de Souza
Captação de imagens documentais: Robson Catalunha e Lívia Bohnsacq
Edição de imagens documentais: Roberto Reiniger
Produção: Thadeo Ibarra
Coordenação de Assessoria de imprensa: Robson Catalunha
Assessoria de imprensa: Idearia – comunicação e criação de conteúdo
Serviço:
Peça:Cabaré Stravaganza
Dias: Quintas, sextas e sábados às 21h
Local: Satyros 1 – Praça Franklin Roosevelt, 214
Valor: R$20,00 (inteira)
Lotação: 50 lugares
Informações: (11) 3258.6345
Fonte: Aplauso Brasil, 28 de novembro de 2011