1. Balançando 2020
A classe teatral está sofrendo muito com o isolamento social provocado pela pandemia da covid 19. Teatros fechados e paralisação total das atividades em grupo há quase dez meses refletiram sobremaneira em todos aqueles ligados ao fazer teatral uma vez que a maioria só ganha quando há um espetáculo em ensaio ou em cartaz.
Muitos atores, atrizes, diretoras e diretores se refugiaram nos espetáculos virtuais que, se por um lado, não dão total realização (uma vez que teatro de verdade pressupõe a presença de público), por outro lado, lhes dá algum sustento nessa época difícil. Alguns, mas poucos, elementos da parte técnica podem se beneficiar desta nova atividade, mas a maioria ficou ao deus dará, muitos nem recebendo o auxílio emergencial do governo. Situação semelhante sofrem os assessores de imprensa e o pessoal de produção.
Abro esta matéria prestando a minha solidariedade a esses elementos tão importantes para o teatro como aqueles cujos nomes brilham nas marquises.
Já citei em outra matéria, mas repito aqui, a importância da série Protagonistas Invisíveis criada por André Grecco onde ele entrevista cenotécnicos, diretores de cena, camareiras, figurinistas, maquiadoras, técnicos de som e de luz, maquinistas, iluminadores e contrarregras. Não tenho maiores informações, mas sei que o Itaú Cultural desenvolveu projeto nos mesmos moldes.
2. E o autor brasileiro?
De maneira diversa, outro elemento da cadeia teatral bastante abalado em função da pandemia foi a dramaturgia brasileira.
O ano de 2020 começou bem. Nos três primeiros meses do ano estrearam ou reestrearam 147 espetáculos de dramaturgos brasileiros.
Em levantamento mensal realizado com dados do Guia de Teatro, chega-se à seguinte distribuição (média) para os espetáculos realizados nos palcos da cidade de 1º de janeiro a 15 de março:
– Dramaturgia brasileira: 45%
– Dramaturgia estrangeira: 14%
– Stand up: 8%
– Teatro infantil: 33%
Considerando apenas o teatro adulto, a distribuição seria:
– Dramaturgia brasileira: 76%
– Dramaturgia estrangeira: 24%
O levantamento nos guias de teatro de São Paulo (Guia OFF, Guia de Teatro, Boca a Boca, Guia de A Folha de S. Paulo e Guia de O Estado de São Paulo) revelou a presença de 147 títulos de autores nacionais nesses primeiros dois meses e meio de 2020, onde podemos deduzir que, nesse curto período, a cidade abrigou cerca de 327 espetáculos teatrais, assim distribuídos:
– Dramaturgia brasileira: 147
– Dramaturgia estrangeira: 46
– Stand up: 26
– Teatro infantil: 108
Um promissor começo que teve triste fim no domingo dia 15 de março quando os últimos teatros cerraram suas portas.
Foram 147 peças brasileiras, entre estreias e reestreias, no curto período de dois meses e meio das quais se pode destacar Fóssil de Marina Corazza, Arrimo de Rudinei Borges dos Santos, Dos Prazeres de Ivan Marsiglia, Bertoleza de Anderson Claudir e Le Tícia Conde, DOC.Malcriadas de Lee Taylor e Uma Lei Chamada Mulher de Consuelo de Castro, todas com dramaturgias elaboradas e consistentes.
Apenas Ivam Cabral e Rodolfo Gárcia Vázquez aparecem com quatro espetáculos em cartaz (todos reestreias), três em parceria e cada um deles com mais um. Nove autores comparecem com dois títulos e a grande maioria (124) com apenas uma peça. Até Nelson Rodrigues (2) e Plínio Marcos (1) não tiveram vez!
Foram 32 monólogos, 23 duos e 92 peças com três ou mais elementos em cena.
Veio um período de silêncio e estupefação seguido das reações com os espetáculos virtuais que inundaram nossas vidas. Muitas peças realizadas nos teatros em anos anteriores foram adaptadas para a nova linguagem e, do que pude acompanhar, surgiram poucos novos textos; entre eles destaco alguns a que pude assistir: A Arte de Encarar o Medo de Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez, Heróis de Paulo Azevedo e A Semente da Romã de Luís Alberto de Abreu.
É muito pouco para um ano que começou tão bem.
Nem mesmo a Mostra de Dramaturgia em Pequenos Formatos do CCSP, importante evento revelador de novos textos pode apresentar os três textos contemplados com o edital do ano.
2021 está batendo na porta, mas as perspectivas para um restabelecimento normal das atividades teatrais não são muito animadoras, porém:
– Vamos acreditar na utopia possível de Ariane Mnouchkine,
– Vamos esperar pelos novos textos de Newton Moreno, Samir Yazbek, Silvia Gomez, Kiko Marques, Marina Corazza e tantos outros, que eu sei que estão só no aguardo da volta das atividades presenciais para botarem a boca no mundo,
– E, principalmente, VAMOS DANÇAR como sugeria Pina Bausch:
DANCE, DANCE… SENÃO ESTAMOS PERDIDOS!
Fonte: Palco Paulistano