SATYROS, SOPRO DE ENERGIA RENOVÁVEL

Ivam Cabral em "Cabaret Stravaganza"

por Luiza Pastor

Quando, no ano passado, a peça “Cabaret Stravaganza” recebeu o prêmio Shell de melhor iluminação, talvez Rodolfo García Vázquez e Ivam Cabral não tivessem plena consciência de estarem abrindo uma nova vertente de soluções para o repertório sempre irrequieto do Satyros. Entretanto, na prática, fica claro a quem, como eu esta noite, vir as duas peças em sequência, que a mais recente obra do grupo, “Inferno na Paisagem Belga” é um largo passo além de “Cabaret”. E, felizmente, esse passo os leva em direção a um nível cada vez mais sofisticado de cenografia.

Íntimos dos libertinos mais famosos da História, os meninos do Satyros já percorreram com brilho as obras malditas do Marquês de Sade, a Roma decadente de Petrônio e, agora, chegam com especial brilho ao intenso, profícuo mas atribulado e breve romance de Paul Verlaine e Arthur Rimbaud. Brilho, no caso, não é força de expressão apenas. Cada palavra, cada gesto, cada movimento é pontuado por uma luz especial, um foco que busca, afaga e arromba corpos, retinas e qualquer zona de conforto que tenha tentado levar para a plateia o espectador incauto. A luz, no “Inferno” como no “Cabaret”, é mais um ator em cena, etéreo, ferino e preciso.

Ivam Cabral, Henrique Mello, Robson Catalunha e Thiago Capella Zanotta são os quatro atores que, em cena, são contemplados com o apoio impecável de Carlos Orelha. São atores que ocupam todos os espaços e que não se escondem da luz ostensiva que, em muitos momentos, nivela público e intérpretes no mesmo patamar de incômodo. A direção de Rodolfo é precisa e ferina, não poupa ninguém. A nudez dos belos corpos dos meninos complementa em perfeita harmonia cada palavra de um amor que escandalizou a sociedade anos antes de Oscar Wilde enfrentar seu próprio mundo.

Para quem gosta de poesia, “Inferno” é perfeita.

Para quem gosta de homem, “Inferno” é perfeita.

Para quem gosta de teatro, “Inferno” é perfeita.

Para quem acredita que o Satyros é um sopro de energia renovável, “Inferno” é um prazer a mais.

Fonte: www.facebook.com/luizapastor

Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
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