Satyros leva a arte para os lares de quarentena

Por Ana Luiza Bessa

O grupo teatral “Satyros” trouxe vida e cultura para as ruas do centro de São Paulo, mais especificamente na praça Roosevelt. Fundado em 1989, o local deu palco para diversos espetáculos, um deles foi a montagem “Sades ou Noites com os Professores Imorais”, que levou a companhia a um reconhecimento nacional mais expressivo na época.

O teatro surgiu em um momento singular no Brasil, pois após anos de ditadura militar, na qual ocorriam frequentes censuras às mais variadas expressões culturais, assume a presidência da república José Sarney, em razão da morte de Tancredo Neves. Eram tempos delicados para a cultura, mas Satyros nos trouxe esperança.

O teatro mostra seu compromisso com a arte e apresenta uma nova forma de apreciá-la, desfrutando das plataformas online. Investe na busca de soluções criativas, explorando novos métodos performáticos.

“A Arte de Encarar o Medo” marca um avanço na pesquisa dos Satyros sobre teatro e tecnologias em geral. Tem sido uma descoberta estética e política de grande impacto para todo o coletivo dos Satyros. Uma porta de esperança teatral no meio da pandemia.”, conta o diretor e também roteirista, Rodolfo García Vázquez.

No próximo dia 13 de junho, às 21 h, o excepcional Satyros irá estrear a temporada digital do espetáculo “A Arte de Encarar o Medo”, com o roteiro de Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez, e direção de Rodolfo García Vázquez.

O elenco traz 14 artistas veteranos na atuação, dentre eles a atriz sueca Ulrika Malmgren, que participará de todas as sessões a partir do seu próprio país; e o ator César Siqueira, que nunca teve um contato presencial com os demais atores, só os conhece virtualmente.

A arte de Encarar o Medo” foi criada a partir de experiências e impressões da quarentena dos próprios artistas, em meio ao cenário caótico de crise política.

A obra irá apresentar um futuro distópico, em que as pessoas tentam construir histórias de uma vida anterior a pandemia. Após 5.555 dias em quarentena, isolados e angustiados, os personagens criam um grupo na internet para se conectar. Os amigos que se reuniram questionam como ainda há energia elétrica e acesso à web, porque as emissoras de televisão e os jornais deixaram de existir e as cidades foram abandonadas.

Perpassam também a solidão, a depressão, o medo do contágio, a angústia pela proximidade da morte e a decepção frente aos rotineiros ataques diários à democracia brasileira.

Ao longo de cada sessão, o público será convidado no chat da plataforma para que expressem seus maiores medos, e eles serão incorporados à cena nesta mesma apresentação, através das falas dos atores.

Certamente é uma proposta impressionante e muito criativa. Nos tempos vividos atualmente, a presença da arte se torna essencial. É magnífico desenvolverem uma peça na qual se pauta extremos de nossos longos e fatigantes dias de quarentena, principalmente quando há a interação com o público, possibilitando um contato mais próximo e realista com as angústias causadas pelo terrível inimigo invisível.

Fonte:Medium

Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
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