REFLEXÃO | Artistas criam teatro digital e conquistam público online

O teatro brasileiro se reinventa em tempos de pandemia e conquista o público com criações específicas para o ambiente online, o chamado teatro digital.

No último fim de semana, a estreia de duas produções específicas para o virtual chamaram a atenção do público e tiveram grande audiência: A Arte de Encarar o Medo, da Cia. de Teatro Os Satyros, e Deus me Live, com a famosa freira Irmã Maria José, A Noviça Mais Rebelde, divertida personagem do ator Wilson de Santos.

Ambos espetáculos contaram com ingressos vendidos na plataforma Sympla e sessões por meio do aplicativo Zoom.

“É o teatro ao vivo online, feito da minha casa para a casa do espectador. O futuro já começou”, diz Wilson de Santos, que ficou impressionado com o forte retorno da primeira apresentação, sobretudo pela quantidade de printsenviados pelos espectadores que se divertiram com sua comédia nesta quarentena.

O diretor da Cia. de Teatro Os Satyros concorda. “A experiência do teatro digital está sendo reveladora. Um novo mundo se abriu para nós, como artistas de teatro, com A Arte de Encarar o Medo”, declara Rodolfo García Vázquez, diretor da peça escrita ao lado de Ivam Cabral.

Vázquez lembra que o caráter virtual faz com que a peça alcance um público que desconhece fronteiras geográficas: “Neste fim de semana tivemos público de Portugal, da Finlândia, Canadá, Suécia, Suíça, Bélgica, de muitos estados do Brasil (que eu saiba pelo menos, da Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Paraná e Espírito Santo)”.

Mesmo em tempos de distanciamento social, o diretor notou uma real proximidade entre espectadores e artistas no virtual. “Ao final do espetáculo, estávamos batendo papo, discutindo sobre o espetáculo, sobre a vida e o medo do vírus, sobre o futuro”, pontua. “No meio da maior pandemia global, éramos a mesma humanidade sonhando uma vida melhor. Descobrimos que esse é um dos poderes mágicos do novo teatro”, diz.

E para os teatrólogos puristas, que querem impor limites e regras para o teatro em plena pandemia, dizendo que o mesmo não pode ser digital, o ator Ivam Cabral, do Satyros, responde.

“Não estamos preocupados com esta discussão [se teatro online é ou não teatro]. Não acho que interessa agora, sabe? Quando no final do século XIX a luz elétrica chegou ao teatro, todos queriam a volta das velas. Quando o cinema deixou de ser mudo o mundo todo se revoltou dizendo que aquilo não era cinema”, recorda.

“Portanto, vamos deixar que o futuro defina o que estamos fazendo. Uma coisa é certa: o teatro é o lugar da presença que acontece com um espaço, um ator, alguém que vê esse ator. Isso define o que é teatro. Uma tríade, portanto. Neste nosso trabalho A Arte de Encarar o Medo existe tudo isso: espaço digital, atores e a presença que, neste caso, é uma telepresença – mas que não deixa de ser presença. Estamos vivos no espaço da cena e isso é inegável”, conclui.

Outros pioneiros

O primeiro grupo a ir para o digital assim que a pandemia começou foi o próprio Satyros, com Todos os Sonhos do Mundo, peça solo de Ivam Cabral que começava turnê nacional e internacional antes da quarentena e que foi levada por ele o diretor Rodolfo García Vázquez o formato live no Instagram.

O diretor Rodolfo García Vázquez e o ator Ivam Cabral, do Satyros – Foto: Edson Degaki/Divulgação – Arquivo Blog do @miguel.arcanjo

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A primeira produção inédita brasileira a estrear online pós-pandemia foi O Filho do Presidente, do ator carioca Ricardo Cabral sob direção de Natasha Corbelino do Teatro Caminho, em cartaz toda sexta até os dias de hoje.

No Rio Grande do Sul, a atriz Cléo De Páris, ao lado do diretor Fábio Penna, criou a live performativa de teatro online semanal Desamparos, também em cartaz toda terça, 22h, em seu Instagram.

Rodrigo Ferraz, em São Paulo, criou na última semana o projeto Selfies Clássicos, com atores convidados interpretando monólogos clássicos em formato selfie no YouTube.

Estas são apenas algumas das muitas ações de teatro digital que começam a surgir em todo o Brasil.

“Estamos em um momento de tanta fragilidade, tanta incerteza, tanto medo, dor e solidão, que se não tivermos um respiro, algo que suspenda essa realidade por uns minutos ou horas, não teremos onde achar o sentido de estar aqui”, diz Cléo De Páris, lembrando que o respiro para a crudeza do mundo ao redor tem nome: “Arte”. Agora, em formato digital.

Fonte: Blog do Arcanjo

Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
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