REFLEXÃO E PERCEPÇÃO ESTÉTICA: UM APONTAMENTO

As características específicas da sociedade brasileira, em suas desigualdades, incongruências e exclusões sociais, determinam abordagens estéticas e temas próprios, distantes de algumas das principais questões, levantadas pela pós-modernidade, de europeus ocidentais e americanos.

Nesse sentido, as categorias de reflexão e percepção estética, utilizadas pela crítica teatral dos países mais avançados, são incapazes de nos ajudar a compreender o teatro produzido em nosso País hoje. Essas categorias, que podem eventualmente ser adequadas para abarcar os fenômenos sociais ocorridos nos países desenvolvidos, mostram-se precárias para explicar diversas manifestações teatrais específicas de uma sociedade singular como a nossa.

Nesse sentido, a experiência do teatro de Gerald Thomas, nos anos 1980, contribui simultaneamente para nos levar a pesquisas estéticas das mais sintonizadas com a produção dos grandes centros desenvolvidos, e, por outro lado, evidenciar o profundo abismo que separa a maior parte da população brasileira desse tipo de linguagem.

O próprio termo “pós-modernidade” foi cunhado em sociedades nas quais o capitalismo pós-industrial foi integralmente implantado e a globalização e a afluência social possibilitaram a estabilização de fortes classes médias e amparo social pleno, ainda que sofrendo profundas transformações em anos mais recentes.

Portanto, pensar em pós-modernidade como forma de conceber o panorama cultural e a estrutura social não chega a ser satisfatório para fornecer explicações a todas as precárias condições sobre as quais se realiza o teatro no Brasil.

O desenvolvimento histórico, a estrutura de classes e as idiossincrasias da sociedade brasileira determinam o teatro nacional. Da mesma forma, o teatro dialeticamente tornou-se agente desse ambiente social, determinando o desenvolvimento cultural e artístico da sociedade.

Essas características próprias da sociedade brasileira vão ser fundamentais para a compreensão de várias manifestações teatrais do teatro brasileiro contemporâneo, em especial em alguns projetos de teatro de grupo do cenário paulista.

Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
Post criado 1725

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Posts Relacionados

Comece a digitar sua pesquisa acima e pressione Enter para pesquisar. Pressione ESC para cancelar.

De volta ao topo