Peça A Arte de Encarar o Medo estreia online

A ARTE DE ENCARAR O MEDO, peça que estreou no sábado (13), é a primeira obra da Companhia de Teatro Os Satyros apresentada de maneira online. Ou melhor, por telepresença, que é a sensação de estar no mesmo ambiente que outras pessoas, mesmo que isso não ocorra fisicamente, como acontece durante o espetáculo.

A peça fala sobre o estar em quarentena e passa a realidade de algumas pessoas que estão há 5.555 dias (pouco mais de QUINZE ANOS) isoladas em casa. Bem mais do que isso, fala sobre os nossos medos que, literalmente, são os mesmos que os das pessoas apresentadas em cena.

Não é pela possibilidade de assistir pelo celular, na sala de casa ou no conforto da nudez (como uma moça comentou no final da apresentação), que a obra deixa de ser teatral. Bem como o Ivam Cabral (ator e roteirista do grupo) comentou no papo-bate que rolou ao final: “É bem mais artesanal do que parece, nós mesmos fazemos a iluminação, o som…” enquanto mostrava alguns dos seus objetos utilizados em cena.

A peça era o que precisava ver. É fácil senti-la porque nós vivemos a mesma coisa que é mostrado em tela (e torço pra que não se torne, de fato, quinze anos em casa). É curtinha mas intensa, engraçada e provocativa. Os efeitos, até serem comentados pela própria equipe Os Satyros, nos encanta e faz qualquer um que não domine a plataforma Zoom – que é por onde eles se apresentam-, acreditar que há uma grande equipe por trás por tudo aquilo.

E há. A grande equipe por trás do espetáculo A ARTE DE ENCARAR O MEDO é a mesma que assistimos do início ao fim. Ajudando uns aos outros e a postos caso de imprevistos aconteçam, os 18 integrantes do elenco ensaiaram por 2 meses, sendo um deles de muitas descobertas e “clicar de todos os botões pra ver o que acontecia” como os próprios comentam entre risadas. É gostoso demais, tanto assistir como participar da conversa ao final (totalmente opcional).

Na noite de estreia, esta mocinha que escreve hoje, compôs uma plateia de mais de 370 contas logadas na mesma sala. Ou seja, o número de corações sedentos por teatro era bem maior já que, por trás de alguns perfis, estavam casais e famílias inteiras.

Embora o estar ali seja mais do que o número da plateia. É uma forma de consumir e fomentar a 5ª arte e a chance de assistir a espetáculos que, de “maneira tradicional”, só seria possível em caso de presença física, neste caso, se estivéssemos em São Paulo. É a chance também de profissionais que não se conhecem fisicamente trabalharem juntos, como o ator César Siqueirae de participação internacional, através de Ulrika Malmgren, atriz sueca.

Dentre tantos elogios, fica aqui apenas uma pergunta: CADÊ A CAMPAINHA?Os Satyros, por favor, pensem na possibilidade de soar o aviso de que o espetáculo vai começar. Agregaria muito na experiência de quem ama e está com saudade de ir ao teatro.

No mais, tudo lindo. Assistam!

Ah, quase esqueci de dizer: O roteiro é de Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez, na direção, Rodolfo García Vázquez e a orientação visual é da Adriana Vaz e do Rogério Romualdo. 

 Após a peça, fizemos algumas perguntas a uma das atrizes de A ARTE DE ENCARAR O MEDO, Julia Bobrow (JB). Ela falou sobre as sensações desse formato que a companhia já pesquisa há tempo e do que mais sente falta:

 

Qual foi a sensação de se apresentar no sábado? 

JB: A sensação foi muito boa. É muito incrível pensar que pessoas de todo Brasil e até de outros países puderam estar assistindo juntas, ao mesmo tempo uma peça. E também muito emocionante voltar a fazer teatro mesmo que de uma maneira diferente.


Há quanto tempo você estava sem apresentações?

 JB: Estava em cartaz com “Pessoas Perfeitas” quando a pandemia chegou ao Brasil. Assim que isso aconteceu, cancelamos as apresentações.


Como você recebeu a ideia de fazer uma peça por telepresença? 
JB: Recebi de forma natural e animada. Natural porque o Satyros já vem pesquisando o teatro expandido desde de 2011. A gente já utilizava internet nas peças e discutia o ator-ciborgue. Então para mim foi uma continuação dessa pesquisa. 


Qual a principal coisa que tu sente falta do palco físico, tradicional? 
JB: Sinto falta do camarim com meus parceiros de cena, as conversas, as risadas, bater texto. E no palco, a sensação do público ali cara a cara com a gente, ouvir as reações… e claro, contracenar olho no olho, poder tocar os outros atores.

 

SERVIÇO
Sextas e sábados às 21h / Domingo às 16h

A compra é feita exclusivamente através do Sympla pelo link: https://www.sympla.com.br/espacodigitaldossatyros
Os ingressos custam R$ 20 e há meia-entrada. Dentro do site é disponibilizado o link de acesso para o espetáculo que abre com 15 minutos antes da peça começar.
A Satyros também abre a possibilidade da pessoa “reassistir” a peça caso tenha algum problema técnico que a faça não assistir a atração por entender as imprevisibilidades da conexão de internet (queda de luz, wi-fi, essas coisas). É só entrar em contato com a equipe do espetáculo.

 

Fonte: Nerd Recomenda

Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
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