RESENHANDO | Os Satyros estreiam “A Casa de Bernarda Alba” no Sesc 14 Bis

A partir desta sexta-feira, dia 26 de julho, até dia 18 de agosto, o Sesc 14 Bis será palco de mais um clássico do teatro, “A Casa de Bernarda Alba”, espetáculo escolhido pelo grupo “Os Satyros” para celebrar a sua (r)existência de 35 anos. A peça escrita pelo renomado dramaturgo espanhol Federico García Lorca, concluída em 1936, poucos meses antes de sua morte, trata da obra e vida de Bernarda Alba, uma mulher autoritária e controladora, que vive com suas cinco filhas em uma casa na Espanha rural, após a morte de seu segundo marido, que desencadeia, um período de luto de oito anos.

A montagem, sob direção de Rodolfo García Vázquez, fundador da companhia, ao lado de Ivam Cabral, traz uma abordagem contemporânea à obra. O espetáculo conta com três formações, com as personagens sendo interpretadas por elenco somente feminino, somente masculino e misto, que se revezam ao longo da temporada, cada um apresentando uma versão de elenco diferente e oferecendo uma perspectiva única sobre os temas abordados.

Este posicionamento sobre gêneros possibilita uma reinterpretação dos papéis das personagens, abrindo espaço para novas leituras sobre o enraizamento do patriarcado em nossa sociedade, proporcionando uma reflexão mais aprofundada sobre o conservadorismo, o machismo estrutural e o lugar imposto ao feminino. No espetáculo, durante o luto de oito anos, as mulheres são proibidas de sair de casa ou se relacionar com homens, tornando o ambiente opressivo. Esta série de tensões é o pano de fundo para rivalidades e conflitos que surgem entre as irmãs que anseiam por liberdade e amor.

Sinopse de “A Casa de Bernarda Alba”
“A Casa de Bernarda Alba” mergulha nas complexidades das relações familiares e sociais, abordando assuntos como poder, repressão, desejo e liberdade. A peça tem direção de Rodolfo García Vázquez, co-fundador da companhia criada em 1989.

Os Satyros, 35 anos de história
Para marcar os 35 anos de história da companhia, no dia 7 de agosto, às 19h30, haverá o lançamento do livro “Os Satyros – Teatricidades – Experimentalismo, Arte e Política” (compre o livro neste link), com bate-papo entre Ivam Cabral e o organizador Marcio Aquiles e mediação do jornalista Silas Martí.

Para o filósofo alemão Boris Groys, o trabalho atual do artista contemporâneo é o seu currículo. Parece-me uma analogia perfeita para a produção teórica e artística de Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez, que hoje colige teatro, cinema, ativismo urbano, pedagogia e psicanálise.

Quando fundaram Os Satyros, em 1989, por mais sonhadores e workaholics que fossem, dificilmente poderiam imaginar que o coletivo iria produzir 145 espetáculos, a serem encenados em 36 países, que receberiam todos os prêmios nacionais e inúmeros internacionais, capitaneariam a criação de duas escolas, revitalizariam o histórico Cine Bijou.

Tampouco que seriam processados pela Associação da Moral e dos Costumes Escoceses, chocada com radicalidade da montagem A Filosofia na Alcova no Festival de Edimburgo de 1993; ameaçados de morte por “atrapalhar” o movimento de traficantes na Praça Roosevelt do início do século; sufocados pela gentrificação que quase os expulsou da região que eles mesmos ajudaram a revitalizar. Foram muitas aventuras, experiências, histórias boas e ruins que consolidaram uma mitologia em torno do grupo.

O repertório da companhia é vasto, transitando por diversos gêneros: commedia dell’arte (“Aventuras de Arlequim”, 1989); teatro libertino (“Sades ou Noites com os Professores Imorais”, 1990); farsa (“A Proposta”, 1991); decadentismo (“Saló, Salomé”, 1991); pós-dramático (“Hamlet-Machine”, 1996); tragédia (“Electra”, 1997); simbolismo (“Cosmogonia – Experimento nº 1”, 2005); drama histórico (“Liz”, 2009); docudrama (“Roberto Zucco”, 2010); performatividade (“Cabaret Stravaganza”, 2011); metateatralidade épica (“Inferno na Paisagem Belga”, 2012), crítica social alegórica (“Trilogia das Pessoas”); matrizes identitárias (“Cabaret Transperipatético”, 2018); teatro digital (“A Arte de Encarar o Medo”, 2020), apenas para citar alguns exemplos.

Esses modelos, evidentemente, não representam índices estanques, mas, sim, expedientes ressignificados à luz das pesquisas do grupo, com foco, nas últimas duas décadas, seja em cena ou na produção intelectual de Cabral e Vázquez (por meio de livros e artigos), nas tipologias da narratividade, no teatro ciborgue e nas questões de gênero e decolonialidade.

Ficha Técnica
Direção Artística: Rodolfo García Vázquez
Assistente de Direção: Renatto Moraes
Elenco: Alessandra Rinaldo, Alex de Felix, André Lu, Anna Paula Kuller, Augusto Luiz, Diego Ribeiro, Eduardo Chagas, Elisa Barboza, Felipe Estevão, Gabriel Mello, Guilherme Andrade, Heyde Sayama, Isa Tucci, Isabela Cetraro, Julia Bobrow, Juliana Moraes, Karina Bastos, Luís Holiver, Mariana França, Neni Benavente, Raul Ribeiro, Tammy Aires, Vitor Camargo, Vitor Lins e Wil Campos.
Pesquisa: Ivam Cabral
Tradução: Rodolfo García Vázque
Adaptação: Ivam Cabral
Cenógrafo: Caio Rosa
Aderecista: Elisa Barboza
Iluminação: Flavio Duarte
Desenho de som: Thiago Capella e Felipe Zancanaro
Canções originais: André Lu
Trilha sonora original: Felipe Zancanaro
Voz off: Ivam Cabral
Berimbau gravado: Zé Vieira
Operação de luz: Flavio Duarte
Operação de som: Felipe Zancanaro
Técnicos de palco: Gabriel Cabeça e Jota Silva
Preparação vocal: André Lu
Direção de coreografia e flamenco: Neni Benavente
Figurino: Senac Lapa Faustolo

Curso livre de criação e desenvolvimento de figurino
Docentes: Maíra D. Pingo e Fábio Martinez
Alunos: Beatriz Angelica Jacob Ferrazzi, Bruna Afonso de Oliveira, Catherine da Silva Mello Alves Branco, Cris Cordeiro, Daniela Aguiar, Gabriel Angelo Morgante de Caires, Gabriela Reis dos Santos, Isabela Cristina Nunes Favaron, Isaque Oliveira Magalhaes, Julia Lie Imamura, Karina Giannecchini Gonçalves, Levy Alves de Souza, Luana Freitas Prates, Luciano Santana Oliveira, Marcos Vinicius Araujo dos Santos, Natalia Giovenale, Vanessa Cardozo Teixeira, Yasmin Gaspar Martins Silva Santos
Produtor: Fabio Martins
Produtora assistente: Maiara Cicut
Fotógrafo de perfil: André Stefano
Fotógrafo de cena: Cristiano Pepi
Idealização: Os Satyros
Realização: Sesc São Paulo

Espetáculo “A Casa de Bernarda Alba”
De 26 de julho a 18 de agosto, quintas, sextas e sábados, às 20h00, e domingos, às 18h00. Exceto dias 15 16 de agosto. Dias 2 e 9 de agosto, sextas, às 15h00.

Sessões com acessibilidade em Libras e audiodescrição:
Dia 1°, quinta-feira – elenco misto
Dia 2, sexta-feira – elenco masculino
Dia 3, sábado – elenco feminino
Duração: 100 minutos
Classificação: 16 anos
Ingressos: R$ 60,00 (inteira); R$ 30,00 (meia-entrada) e R$ 18,00 (credencial plena)
Sesc 14 Bis – Rua Dr. Plínio Barreto, 285, Bela Vista, São Paulo – SP

Evento de lançamento do livro “Os Satyros – Teatricidades – Experimentalismo, Arte e Política”
Dia 7 de agosto, quarta-feira, a partir de 19h30
Bate-papo entre Marcio Aquiles e Ivam Cabral, com mediação de Silas Martí, seguido de sessão de autógrafos.
Biblioteca.
Todas as idades
Evento gratuito.

 

Fonte: Resenhando

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