A discussão é fundamental em um momento em que a estética já não determina mais a função da arte. A função do novo na arte se deteriorou. O novo já não existe mais, os modernos o esgotaram enquanto referencial estético. A estética pode ser embalada e revendida. Picassos e Van Goghs estão hoje espalhados por luxuosas sedes de corporações multinacionais japonesas. A Benetton transformou o trabalho de um artista polêmico em elemento de seu marketing e vice-versa. [1] Por isso a questão ética assume um papel fundamental. O resultado estético já não pode ser considerado o único diferencial fundamental.
Ética = tratar o outro como homem. Segundo os nossos princípios, esse é o conceito fundamental na arte hoje. Estar atento, tomar atenção, não vacilar em tratar o público, o espectador, o leitor, como homem. A arte é uma relação entre seres humanos.
A indústria cultural tende a transformar o produto artístico em parte de um sistema de mercadorias no qual a arte é contabilizada como produto. Os modernos, de certa forma, tentaram cancelar o efeito dessa tendência mercantilista. Mas o mercado conseguiu absorver essa reação de forma extremamente natural. Hoje, os objetos de Duchamp são expostos e cotados, guardados em museus. A indústria cultural tem o paradigma do lucro, o que se afasta de qualquer ideia de uma ética humanista.
Como, então, viver dentro da indústria e ao mesmo tempo negá-la, buscando a comunicação artística não como uma relação com um consumidor que paga, mas com um ser humano que busca na experiência estética uma compreensão de si próprio e do mundo que o envolve? Só assim é possível a liberdade como “criar o possível”.
Enquanto estética, o teatro não pode ser um dogma artístico, com temáticas, materiais e estilos fechados. A pós-modernidade ri-se de conceitos como “ruptura”, “novo” ou “arte superior”, tão apreciados pelos modernos.
O teatro precisa falar de coisas essenciais, usando os temas e materiais necessários para esse fim. E o essencial tanto pode ser a busca da ingenuidade perdida ou a inserção do homem no universo tecnológico.
[1] Oliviero Toscani, fotógrafo oficinal da grife Benetton, causou escândalos na década de 1990 ao criar, para as campanhas da multinacional italiana, imagens dramáticas de pacientes de aids agonizando; beijos heréticos de um padre e de uma freira; uma mulher negra amamentando um bebê branco; viúvas enlutadas pela Máfia; e os condenados no corredor da morte.
“A indústria cultural tende a transformar o produto artístico em parte de um sistema de mercadorias no qual a arte é contabilizada como produto”…
Que industria cultural? A suas?
ou você e suas empresas? Seus ganhos, suas jogadas….
Espero que esse texto possa te transformar também.
para você, o post: OS COVARDES NÃO TÊM IDENTIDADE. abraço.