Não desisto, apesar de todos os nãos que me atravessam como portas fechadas antes mesmo do toque da mão na maçaneta.
Não desisto, apesar das forças negativas que sopram contra mim como ventos gelados tentando apagar a chama da minha fé.
Não desisto, apesar da torcida contrária que deseja meu tropeço, da ausência de apoio, do medo que paralisa, do cansaço que se acumula como poeira nos ombros.
Não desisto também porque encontro – sempre encontro – mãos que se estendem. Pessoas que sonham comigo, que me defendem quando a batalha parece desigual, que acreditam no que nem eu mesmo, em certas noites, ouso acreditar. Não desisto porque há amor, e o amor é um escudo invisível que se fabrica entre os corpos, uma rede silenciosa que me impede de cair no vazio.
Eles quebram o mundo em pedacinhos, mas eu permaneço, recolhendo os estilhaços um a um, com a paciência de quem sabe que até as ruínas podem se recompor em vitrais. Eu já fabriquei anticorpos – não só biológicos, mas existenciais – para impedir que essas dores se tornem físicas. Porque o corpo cobra. O corpo cobra cada excesso de heroísmo, cada madrugada mal dormida, cada ponta que tentei segurar sozinho, na ilusão de que era forte o bastante para sustentar o mundo inteiro nos ombros.
Não, nem eu nem você temos essa força toda. Mas podemos ter algo maior: a coragem de imaginar. A coragem de enxergar o que ainda não existe, de colocar em pé um sonho que, no início, ninguém acreditava. Não por heroísmo – que palavra arrogante –, mas por honestidade. Porque um sonho sonhado com honestidade não é delírio: é projeto. E quando ele se ergue em edifícios, exige zelo cotidiano, mãos que cuidem, olhos que vigiem, presença que se mantenha.
Não desisto, apesar de.
Não desisto, porque.
É preciso coragem. É preciso estar atento e forte. Sempre.