Em 1983 Bibi Ferreira produziu e estrelou o musical “Piaf, a Vida de uma Estrela da Canção”, de Pam Gens, com direção de Flávio Rangel. Um sucesso estrondoso, uma superprodução, com dezenas de artistas em cena, entre atores e músicos. Depois de cumprir temporada no Teatro Ginástico do Rio de Janeiro, a peça percorreu o Brasil todo, sempre com enorme sucesso.
Em 1986 eu cursava o segundo ano do curso de artes cênicas quando Bibi Ferreira aportou no Teatro Guaíra com a peça.
Naquele momento, nossa amada Lucia Camargo dirigia a Fundação Teatro Guaíra – aliás, foi dela a idealização do Curso Superior de Artes Cênicas, um convênio entre o Guaíra e a PUC/PR, que infelizmente não existe mais.
Lucia tinha o costume de fazer pontes entre os artistas que vinham atuar em Curitiba e o nosso curso de teatro. Foi assim que tivemos aulas com Paulo Autran, Fernanda Montenegro, Tônia Carrero, Dina Sfat, Maria Della Costa e uma infinidade de artistas incríveis.
Assim, Bibi veio dar aulas pra gente.
No primeiro dia, estávamos em círculo no palco do Guairão, Bibi falava do processo de construção de seu espetáculo quando, do nada, olha fixamente pros meus olhos e dispara:
– Como você se chama?
Todos olham pra mim, estou rubro.
– Ivam, respondo.
– Com você eu me casaria novamente, ela diz.
– Comigo?, balbucio.
– Hoje você me fez voltar aos vinte anos. Você se parece demais com um grande amor da minha juventude.
Estou envergonhado mesmo, de repente eu era foco da atenção e aquela mulher incrível me olhando fundo nos olhos.
– Casa comigo?, ela me provoca.
Todos riem, estou muito nervoso, digo que sim, Bibi me joga um beijo e continua sua aula. Nos reunimos por mais alguns dias, mas a partir desse momento ela me trata com muito, muito carinho.
E foi assim que, durante alguns dias, embora Bibi tenha desencanado de seu pedido, eu me senti o próprio noivo da atriz, entre passeios pela cidade e chás com profiteroles na Confeitaria das Famílias, nos finais da tarde.
Assistimos deslumbrados à sua Piaf no domingo, na última apresentação do espetáculo. Ao final da peça, vamos ao seu camarim e, sorrindo, Bibi me entrega uma pequena caixinha preta.
– Este é o meu dote e a sua galharufa.
Estou emocionado. Dentro da caixinha tem um pequeno cordão de ouro. Nos abraçamos e um obrigado tímido é tudo o que eu consigo dizer.
Há muitas pessoas por ali e vou me distanciando discretamente, enquanto começo a caminhar de volta pra minha casa, com a caixinha preta entre minhas mãos trêmulas.
Nunca mais tive coragem de me aproximar de Bibi que, a partir daquele momento, iria se tornar, para sempre, uma gigante inatingível. Continuei vendo seus espetáculos, mas jamais tive coragem de procurá-la ao final.
Adorei. Suas histórias sempre maravilhosas. E bem escritas.