Impossível dissociar a biografia de Tennessee Williams de sua obra. Filho de um vendedor ambulante viciado em jogos e alcóolatra, foi preterido pelo pai pelo fato de ser o mais frágil e doente dentre os irmãos.
Sua mãe, com quadros graves de depressão, também cooperou para que o jovem Tom, como era conhecido na infância, se tornasse bastante instrospectivo e se voltasse à escrita na tentativa de fugir deste quadro familiar bastante complicado.
Um dos maiores dramaturgos do século XX, Tenessee Williams (1911-1983), o gênio do realismo americano, além do sucesso no teatro, teve vários de seus textos adaptados para o cinema com grande êxito. No Brasil, foi encenado pela primeira vez por Maria Della Costa que protagonizou “Rosa Tatuada”, em 1956.
Escreveu compulsivamente e sua obra é bastante extensa. Porém, seus textos curtos, embora conhecidos mundialmente, só agora chegam ao Brasil. Obra e graça do editor Edson Manoel de Oliveira Filho, da É Realizações, e do Grupo Tapa, responsáveis pela organização, elaboração e tradução deste “Mister Paradise e Outras Peças em Um Ato”, lançado no ano passado.
O livro traz 13 textos de Tennessee Williams, escritos entre as décadas de 1930 e 1960, e sua leitura é deliciosamente dolorida e obrigatória.
Enquanto lia, fiquei o tempo todo com o desejo de ver estes textos montados. Embora sobressaia, em alguns deles, muito mais a veia literária do que propriamente a dramática, é no terreno do simbólico e do subjetivo que o autor ganha contornos mais expressivos.
Em “Por que você fuma tanto, Lily?”, um dos 13 textos da obra, por exemplo, como bem atenta a pesquisadora Maria Silvia Betti, em sua apresentação do livro, “grande parte das observações alusivas às personagens, nas rubricas desta peça, é direcionada para a composição de elementos que só podem ser caracterizados em cena por meio de recursos de caráter simbólico”.
Se observarmos os caminhos que o teatro contemporâneo tem trilhado ultimamente, talvez até possamos afirmar que Willimas deva ser colocado no panteão dos visionários. Não foi no teatro pós-dramático, ou, como queiram épico, por exemplo, que as rubricas e o subjetivo tomaram frente das questões mais essenciais da cena?
Evidentemente que uma firmação como esta mereceria uma análise mais profunda. De todo modo, Tennessee Williams é importante porque está no centro da reflexão da alteridade. É sempre o outro que interessa mais. O eu ali é pequeno e frágil demasiado. Se visto isoladamente, pode soar melodramático; colocado em xeque, revela camadas. E são elas que desencadeiam o que há de mais interessante na obra do autor.