– Ué, você, em casa?
– A Fil não parou de miar. Tá me dando muito trabalho.
– Tá todo mundo te esperando…
– Você tem velas pra me emprestar?
– Velas?
– Continuo sem luz.
– Ainda não ligaram a luz?
– Com o dinheiro que você me deu eu paguei a conta do telefone.
– E ficou sem luz?
– O telefone é mais importante.
– Mas como você pode viver sem luz?
– É, estragou tudo que estava na geladeira. Tive que jogar um frango inteirinho no lixo. Já tava cheirando mal.
– Você tem o que comer?
– Ainda tenho um macarrão que dá pra hoje.
– E amanhã?
– Logo se vê.
– Mas você não pode viver assim. Posso te dar mais um dinheiro, então. Quanto você precisa?
– Se você me arrumar 100 reais acho que dá.
– Tudo bem, 100 reais eu posso. Paga a conta da luz e compra alguma coisa no supermercado?
– Espera, bicho. Não é assim. É que tem outra conta de telefone que preciso pagar.
– Mas e a luz? Você não pode viver desse jeito. E precisa comer também.
– Eu sei, filho, eu sei. Mas prefiro ter o telefone ligado. Deixei meus contatos em vários lugares. Se me desligarem o telefone eu perco o contato com o mundo.
– Meu amor, mas eu não posso te dar mais dinheiro.
– Não se preocupe. Com o telefone ligado o resto se ajeita.
– Então você não vem agora?
– Às quatro eu passo aí.
– Tudo bem, eu te espero. Um beijo.
– Outro.