ADORÁVEL LALA

“O que é aquilo?”. Ao chegar perto veriam que é uma atriz

Lala Schneider, falecida em 2007 e que ganhou ontem um busto na Praça Santos Andrade em Curitiba, foi a primeira dama do teatro paranaense. No ano seguinte à sua morte, lancei o livro ” Cinco Biografias do Teatro Paranaense” onde consta uma longa entrevista com a atriz, realizada em sua casa, na Vila Hauer, um pouco antes de sua morte. Falamos durante mais de cinco horas e de muitas coisas, de sua origem pobre à sua consagração. Me lembro que fazia muito frio e que tomei bastante café. Foi a última vez que a vi. Minhas duas últimas perguntas à ela foram estas:

Você tem medo de quê?
Da morte? Digo sempre que devo ser a reencarnação de uma grande atriz do passado porque o teatro aconteceu na minha vida e acontece, até hoje, sem eu procurar. Eu quero morrer no palco. Será que vai dar? É um sonho meu morrer no palco. Já sofri um grande acidente no palco. Foi em 1986, quando ensaiava A Sedução, do Edson Bueno. Tive um aneurisma cerebral. Fui hospitalizada, operei o cérebro e, assim que recebi alta, voltei pra fazer a peça.

Algum sonho?
Ter uma estátua na Praça Santos Andrade. Essa é minha vaidade. Se não der na Praça, que a estátua seja colocada em cima da passarela próxima da minha casa. Lá do viaduto as pessoas iam se perguntar: “O que é aquilo?”. Ao chegar perto veriam que é uma atriz.

Fonte: CABRAL, Ivam e BAGGIO, Marianne C. Cinco Biografias do Teatro Paranaense. Curitiba: Fundação Cultural de Curitiba, 2008.

Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
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