MINISSÉRIE – CAP. FINAL | Jane Mary está feliz

Eu devia ter uns 15, 16 anos quando descobri o porquê das visitas diárias de Jane Mary ao cemitério, que ficava no extremo da cidade, já na área rural.
 
Depois de ser insultada pelos meninos menores, sempre num ponto próximo à igreja matriz, Jane Mary encontrava os meninos maiores, adolescentes, que a esperavam no cafezal, um pouco antes de chegar ao cemitério. E era ali que acontecia uma grande festa. Jane Mary adorava dar para os meninos.
 
Nunca soube como isso teve início. O fato é que Jane Mary, antes de entrar no cemitério e se prostrar, durante minutos infindáveis na sepultura da avó materna, dava sempre uma paradinha no cafezal do Zió, onde os meninos maiores a esperavam.
 
Mas ali, entre os meninos maiores, tudo era muito organizado. Jane Mary, que ia sempre com apenas um dos moleques, era respeitada em sua decisão. E era ela quem elegia o parceiro.
 
Por causa destes encontros com os meninos maiores no cafezal, Jane Mary engravidou três vezes. E era um problema enorme para a sua família que sempre tinha que submetê-la aos serviços da dona Amaranda, a parteira da cidade, que era responsável pelos abortos.
 
Fato é, que desde que Jane Mary começou a descer ao cemitério, sua família e toda a cidade, principiou a considerá-la com problemas mentais e a maluca do lugar. E não teve jeito. Não adiantou prendê-la, levá-la para passar uns tempos na casa da tia, no campo. Jane Mary sempre arrumava um jeito de fugir e voltar ao seu trajeto rumo ao cemitério.
 
Ao final do terceiro aborto, dona Amaranta sugeriu à família que amarrassem as trompas de Jane Mary. Isso garantiria mais tranquilidade a todos. E assim foi feito.
 
Quando Jane Mary chegou perto dos 60 anos, os meninos já não a esperavam mais no cafezal. E, compulsiva por sexo, começou a invadir a casa dos homens, sempre quando suas mulheres não estavam no local. Uma confusão que fez a pequenina cidade tremer.
 
Mas Jane Mary encontrou, finalmente, a solução. Esperta, um dia bateu à porta do Asilo São Tomás de Aquino. Ninguém imaginava que Jane Mary, na verdade, estava ali em busca de prazer. E foi o Agnaldo, o tropeiro andarilho mudo, que não tinha passado e que chegara à cidade com a saúde muito debilitada e que há anos era um dos internos do lugar, que assanhou-se com Jane Mary.
 
A história terminou feliz. Como os dois, mais de 70 anos, adoravam sexo, a família de Jane Mary, que não tinha mais os pais vivos, resolveu oficializar a relação do casal.
 
Jane Mary entrou na igreja matriz vestida de noiva e hoje vive feliz numa das casas da Vila Agrária Municipal, no extremo norte da cidade. E sua irmã, Shirley Maria, sugere aos amigos que levem Viagra de presente ao casal. Porque muitas vezes o tropeiro Agnaldo não dá no couro.
 
No Carnaval do ano passado, aproveitei a ida de um amigo à minha cidade, e enviei para Jane Mary três caixas de Viagra. E fico aqui torcendo para que o velho tropeiro a faça feliz.
Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
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