O que podemos sentir aqui é o encontro de duas intensidades que resvalam em uma delicado mergulho no fogo de um poema que sempre
incendeia o corpo a partir dos olhos, são dois tipos de intensidade, Cléo agindo dentro do poema é uma espécie de música selvagem da infância,
de uma infância próxima da fúria triste e lírica evocada por Truffaut em “O Menino Selvagem” ou do mesmo tipo de fúria também evocada por Jean Vigo
em “Zero de Conduta”, Cléo consegue atingir um grau de imersão nessa infância indomada e lírica que só encontra paralelo em Emily Watson ou Bjork (no filme de Lars von Trier).
Ivam Cabral em uma outra dimensão dessa intensidade, está conectado com o que podemos chamar de fogo de Saturno, e estamos nos referindo ao
Saturno de Goya, é igualmente intenso mas consegue extrair de seu corpo uma força que só possui quem a retira do desespero, quem é capaz de
transformá-lo em força, como os tigres de Borges, como o lutador Colibri do romance de Severo Sarduy, Ivam é um dançarino do seu próprio Caos
repleto de harmonias densas corporificadas através do olhar, existe uma arquitetura do olhar em Ivam, ele possui o mesmo olhar que ama os
abismos de Klaus Maria Brandauer e de Jean-Pierre Léaud.
Ivam & Cléo são delicadas forças líricas da natureza à serviço de um poema
que embora efêmero em sua duração de sonho, é belo e sutil como a última dança de um vento que toca as ondas de um mar que de repente se acalma
Fonte: Portal da SP Escola de Teatro, 30 de março de 2012