“Esboço” é um livro extraordinário. Foi lançado no Brasil pela Editora Todavia. Publicado originalmente em 2014 pela escritora canadense, radicada no Reino Unido, Rachel Cusk, é a primeira parte de uma trilogia. Os outros dois são: “Trânsito” (2017) e “Kudos” (2018), ainda inéditos no Brasil.
Soube do livro pela amiga finlandesa Sanna Ryynänenque me indicou sua leitura, uma das mais deliciosas do ano passado.
“Esboço” traz uma história bastante simples. Uma escritora inglesa viaja para Atenas por apenas três dias, para ministrar aulas de escrita criativa numa universidade, e as verdadeiras personagens do livro são as pessoas que a narradora vai encontrando pelo caminho, com suas histórias familiares ou de relações amorosas tempestuosas. E, curioso, só conheceremos o nome da narradora no final do romance. O que faz com que sua identidade, no entanto, não seja exatamente menos importante.
Estamos diante de um raro exemplo na literatura onde essas personagens também não interessam muito à ação narrativa; são suas vozes que darão à obra um tom reflexivo e, muitas vezes, filosófico. Como se essas personagens, sem nenhuma relação entre elas, estivessem no divã da narradora e nós, leitores, assumíssemos com ela o papel de seus analistas.
Embora aparentemente simples, a estrutura da obra é bastante complexa. São dez capítulos onde essas personagens centrais são apenas interlocutoras, num jogo bonito de alteridade e empatia, fazendo com que a grande força do livro resida no poder da escuta, resultando ao final num mosaico honesto de vozes coletivas da nossa contemporaneidade.
“Esboço” tem leitura rápida e prazerosa e seu enredo faz com que o livro tenha desdobramentos que, primeiro impressionam, depois trazem emoção e nos fazem pensar.
Esboço, de Rachel Cusk, tradução Fernanda Abreu, Editora Todavia, 2019
