Falávamos sobre futuros quando deixei escapar, quase como quem abre uma janela para o vento: “penso, sim, no dia em que deixarei a SP Escola de Teatro. E, com esse pensamento, venho tecendo a minha sucessão.”
Foi então que alguém, num tom afiado, disse: “Sucessão? Isso parece coisa de dinastia. Esta não é uma escola do Ivam.”
Não respondi na hora. Precisei de um bom tempo para respirar. As palavras, às vezes, precisam repousar antes de nascerem. O que poderia ter sido uma frase solta, dessas que evaporam, ficou pousada em mim como um bilhete dobrado.
Com o tempo, desdobrei o papel e li a resposta escrita por dentro.
Sim, esta é a escola do Ivam. E digo isso com a humildade de quem sabe que um nome, sozinho, não sustenta uma casa, mas pode impregnar algum perfume.
Desde o início, plantei no DNA deste projeto as sementes das minhas dúvidas. E, junto delas, as raízes das minhas incertezas. Enquanto eu estiver à frente da direção executiva, será o reflexo dessas perguntas que habitará cada sala, cada ensaio, cada silêncio compartilhado.
Foi assim que a escola se fez potência. Porque parte das minhas questões sempre foi dar aos outros a liberdade que eu também busco. Lutei, com a persistência de quem protege um jardim, para que as coordenações pudessem traçar seus próprios caminhos, com a autonomia de quem decide a forma e o ritmo da própria caminhada.
Talvez seja essa a beleza da “escola do Ivam” – sem ironia alguma. Não se trata de um trono, mas de um rio que recebe afluentes. A herança que quero deixar não é um molde, mas o direito de criar. Porque, no fim, minha verdadeira sucessão será feita de perguntas – e de quem tiver coragem de continuar perguntando.