Hoje, com a última apresentação de “Pessoas Perfeitas”, em modo digital, acho que encerro um grande, poderoso e, por que não dizer, tortuoso ciclo que se iniciou exatamente no dia 20 de março do ano passado, quando nos recusamos a parar de trabalhar e começamos a fazer teatro na internet. Não foi nada fácil. O mais curioso: estávamos em cartaz com o mesmo “Pessoas Perfeitas” quando a pandemia nos tomou de sobressalto.
De lá pra cá, foram muitas aventuras. Descobrimos, por exemplo, que o teatro deixou de ser regional para unir o planeta inteirinho. E que lindo foi tudo isso! E só o teatro poderia fazer isso, certamente. Porque, além de recebermos públicos que vinham de lugares tão inusitados e surpreendentes quanto Etiópia, Benim ou Singapura; pasmem, fomos trabalhar com artistas dos cinco continentes do nosso planeta Terra.
Sem contar que tivemos que redimensionar o conceito de território. Sim, São Paulo deixou, definitivamente, de ser o nosso centro, o foco principal do nosso trabalho. Ao atingirmos lugares tão distantes da nossa Praça Roosevelt, imediatamente tivemos que nos descolar no “entre” e redimensionar, pra sempre, nossos conceitos de centros e periferias e elaborar ideias de “focos”. Que, como sabemos, mudam de direções conforme os protagonismos de “uns” e de “outros”.
No final das contas, estamos saindo desse jogo com olhos muito mais atentos. À diversidade, sobretudo. O mundo não é o que conhecemos, é muito mais, muito além, muito maior. É, sobretudo, o que a gente pode fazer com ele.
Assim, descobrimos com a internet uma maneira de nos colocarmos dentro este jogo, em horizontalidade. Que pode ser cruel ou cheio de possibilidades para pensarmos um futuro muito mais solidário. E foi isso que encontramos. Muitas milhares de pessoas que viajaram conosco em busca de uma resposta, em princípio – só em princípio, é bom dizer – para as nossas solidões. Ou de muitas respostas. Afinal, sabemos, somos múltiplos.
Desta maneira, hoje encerramos a nossa temporada, logo mais às 20h, e estão todas e todos convidados.
Espaço Digital dos Satyros, Plataforma Sympla
Foto em destaque: Andre Stefano