MINHA OPINIÃO – “DECOMPOR”, DE LUIZ PINHEIRO, É UMA OBRA-PRIMA

Luiz Pinheiro é um nome importante da MPB. Parceiro de Hermelino Neder no excelente álbum “Cássia Secreta”, de 2008, compôs para Vânia Bastos e Cássia Eller, no antológico “Cássia Eller”, de 1992 – inclusive, é um dos autores de “Marginal”, um dos carros-chefes do disco.

Eu o conheci há uns 10 anos. Pi, como é chamado pelos amigos mais próximos, é autor, também ao lado de Hermelino, das canções de “Kaspar ou a Triste História do Pequeno Rei do Infinito Arrancado de sua Casca de Noz”, espetáculo que Os Satyros produziu em 2004.

Pi apareceu na Praça Roosevelt como convidado de Vanessa Bumagny, que comemorava seu aniversário no Satyros. 12 de maio de 2001, uma noite inesquecível. Estava, ali, no Satyros Um – na época somente Espaço dos Satyros, já que nem sonhávamos com uma segunda sede –, um monte de gente bacana, um pessoal da música, uma área com a qual começávamos a flertar.

Naquele tempo, heróico mesmo, o Espaço dos Satyros oferecia, além dos espetáculos nos fins de semana, shows musicais. Era assim: Adriana Capparelli, às segundas e terças com um espetáculo lindo, “Pequeno Circo Íntimo”, com canções de João Bosco e Aldir Blanc, dirigido pela Isabel Setti; e, às quartas e quintas, Letícia Coura, Beba Zanetini, Vitor da Trindade  e eu apresentávamos “Letícia Coura canta Boris Vian”.

Então a gente pensou que poderia criar uma relação mais profunda com a música. Tínhamos certeza de que estávamos vivendo um grande movimento artístico e que faríamos a diferença. Em nenhum momento – isso em 2001, 2002 – pensamos que não conseguiríamos chegar lá. E até acho que chegamos. Várias ideias incríveis surgiram ali, nos bastidores dos Satyros. E muitas realizações também. Recebemos nomes bem bacanas em nosso palco: Zeca Baleiro, Chico César, Dante Ozetti, Rebeca Matta,  Vitor Ramil, Vanessa da Mata, Moisés Santana, Waldir da Fonseca, Luiz Gayotto, Kléber Albuquerque, Nô Stopa, Helô Ribeiro, Ilana Volcov, André Sant’Ana e, até, Alaíde Costa.

Em diversas ocasiões, Luiz Pinheiro se apresentou no Satyros. Acho, até – e não gostaria que essa afirmação soasse, assim, pretensiosa demais – , que foi por causa do lado musical do Satyros que o Luiz, Pi, para os amigos, começou a levar a sério a sua veia de intérprete. Sim, porque até em algum momento de sua biografia, Pi era apenas um compositor cult.

Muitas histórias foram vividas por nós nestes anos todos. Noites de bebedeiras e loucuras e devaneios artísticos mil. Um belo dia Pi aparece com uma canção que nos deixa boquiabertos. “As Impurezas da Rua Sem Véu”, composta por ele e Vanessa Bumagny chegava até nós como uma espécie de hino da Praça Roosevelt. Tempos depois, outra canção, “Pedra D. Córdoba”, escrita por ele, Morena Rosa e Marcos Aspahan, em homenagem à nossa diva.

Não me esqueço. Satyrianas de 2009. A Praça Roosevelt é uma festa e o evento traz para a nossa praça, em 78 horas de atividades ininterruptas, um público enorme: 40 mil pessoas. Na tenda CineMix é apresentado pela primeira vez o clip da canção. Ao final, uma ovação ao trabalho do Pi e ao poder de sedução da nossa diva automática indica que estamos diante de uma história poderosíssima protagonizada pelo trabalho daqueles artistas alternativos.

Há um tempo, o Rodolfo me conta que Pi esteve no Satyros e deixou um presente para mim, seu CD, “Decompor”. O disco ainda fica na minha bolsa por uns dias até que eu consiga ouví-lo. Foi então que o tempo parou ao meu redor; me certifico: tenho aos meus ouvidos uma obra-prima!

Pi, meu amigo, meu talentoso e grandioso amigo, revela, neste trabalho, o maior dos poderes:  o do encanto. Faz com que a gente descubra um estado único, aquele, o da adoração, que só o melhor da arte pode tocar.

“Decompor” é um disco conceitual. E surge definitivo, requintado e elegante como a maioria de suas canções. Sem nenhuma concessão, um dos melhores álbuns do ano. Não só por revelar um compositor maduro, um intérprete em sua plenitude, nem tanto técnica, mas principalmente artística. E com um rigor! O que é o violão de Hermelino Neder em “A Cidade Não É Mais Moderna”. Ou sua interpretação para “Brasa Dormida”. Ou, ainda, a participação de Vanessa Bumagny em “Cinzas”.

Estou maravilhado! E louco pra encontrar o Pi, dar um abraço apertado e dizer a ele que sou seu fã. Agradecer, também, por ter me reconhecido neste trabalho – sim, eu sabia de cor a maioria das canções!

Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
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