Chegamos pela manhã e o silêncio da sacada era outro. Faltava algo. Ou alguém. O casal de sabiás-laranjeira, que havia feito do nosso pequeno refúgio um território de esperança, não estava mais lá. No lugar dos dois ovos vistos na sexta, havia três. Três pequenas promessas de vida, sozinhas. A ausência dos pais pesava mais que o céu cinzento do dia.
Passamos horas à espreita, como quem vigia um milagre. Nada. Nenhum canto, nenhum bater de asas, nenhum sinal da coreografia amorosa que, dias antes, nos encantara. Fui ao Google, essa espécie de oráculo moderno, em busca de consolo ou explicação. Li que os sabiás não costumam se ausentar por tanto tempo. Que quando o fazem, é presságio. Que às vezes um deles morre. Que às vezes os ovos não vingam. E então o peito apertou. Porque não há como ler sobre a morte sem sentir que ela está a rondar.
A tristeza se infiltrou pelo escritório, mansa, como o chuvisco que veio mais tarde. A primavera, que prometia flores e revoadas, amanheceu em suspenso. Tudo parecia dizer que nem sempre o florescer se cumpre, que há estações que se detêm no meio do caminho, incapazes de se realizar. Talvez seja isso o amadurecer: compreender que o broto também pode não romper a casca, e ainda assim conter beleza.
Ainda assim, antes de ir embora, deixei um pouco de mamão e abacate na varanda. Um gesto simples, um presente tardio. Ainda respeitando o vazio. Ele também é parte do ciclo. Às vezes, a natureza nos ensina que o amor nem sempre volta, mas o cuidado permanece. E que mesmo a primavera, com toda sua fama de renascimento, também carrega dias nublados, promessas que se desfazem no ar, e ninhos que ficam. Como nós. À espera do que já não volta.
