CRÍTICA | Teatro em tempos de pandemia

por Gilberto Bartholo

Infelizmente, há mais de quatro meses, estamos impossibilitados de assistir a uma peça de TEATRO, porque não podemos ir ao TEATRO, ainda que, num gesto heroico, político, de resistência, e que merece todo o meu respeito, muitos artistas estejam fazendo trabalhos, usando plataformas digitais, o tal do “streaming”.

Não quero criar a mínima polêmica, porque não estou interessado na opinião de ninguém, da mesma forma como podem não estar interessados na minha.

Embora não seja este o meu real interesse com esta postagem (Tenho aparecido muito pouco por aqui, porque este aplicativo está muito chato, para o meu gosto.), eu não considero essas experiências como sendo TEATRO. Que se dê outro nome a isso, que parece que veio para ficar, mesmo depois do fim da pandemia. Que bom! Tudo pela ARTE é válido!

Eu não gosto muito desse tipo de coisa, entretanto, para dar força a alguns colegas e muitos amigos, e numa atitude de total respeito e apoio a tal iniciativa, tenho assistido, com a maior boa vontade, a alguns desses “espetáculos” (?).

Gostei bastante de uns, menos de outros e não gostei de alguns, entretanto, dê-se lá o nome que se quiser dar a tal trabalho, não posso deixar de tornar público o meu apoio irrestrito a todos que o estão fazendo nem de registrar todo o meu entusiasmo (O MOTIVO PRINCIPAL DESTA POSTAGEM) com duas dessas “performances”, as quais me emocionaram bastante, quase me levando às lágrimas.

A primeira dessas experiências eu vi no último domingo: TODOS OS SONHOS DO MUNDO, um trabalho FANTÁSTICO do Ivam Cabral(SATYROS), que permanecerá em cartaz. Procurem se informar! Concepção: Ivam Cabral e Rodolfo García Vásquez
Direção: Rodolfo García Vázquez
Atuação: Ivam Cabral 
Fiquei hipnotizado pelos olhos do Ivam, pela enorme cumplicidade dele com uma lente. E logo ele, que é um ator, genuinamente, de TEATRO. Aquela expressividade dos olhos brilhantes e vivos, que diziam tudo, associada à poesia do texto das histórias que ele contava me faziam enxergá-lo a meio metro de mim, em pessoa, e não numa tela bem grande de um computador, como o meu, como se estivesse contando, só para mim, aquelas histórias, ao vivo. É algo ADMIRÁVEL, que recomendo muito.

A segunda experiência aconteceu ontem, quando vi o querido Claudio Tovar, de dentro de seu atelier, nos brindar com uma versão de “O DIÁRIO DE UM LOUCO”, de Nikolai Gogol, com direção de Fransérgio Araújo.
Eu não conseguia piscar. Segurei, até o final, a vontade de fazer um “xixizinho”, porque não podia admitir tirar os olhos da tela do computador. Quanta criatividade! Quanto talento! Quanto bom gosto! Quanto cuidado com a produção! Quanta emoção aquilo me proporcionou!
Depois de ter assistido a várias montagens desse texto clássico, incluindo a inesquecível e irretocável de Rubens Corrêa, achei que nunca mais encontraria alguém que o superasse ou chegasse perto do seu trabalho. Pois bem, essa pessoa, esse artista, existe e se chama Claudio Tovar.
Lucinha Lins também arrasou, manejando a câmera. 
Os detalhes de direção são indescritíveis e a interpretação do Tovar, COMOVENTE, DE ARREPIAR! 

Tanto no domingo como ontem, fui dormir em total estado de graça.

É uma pena que ontem tenha sido a última apresentação do Tovar, mas eu vou ligar para ele, agora mesmo, e vou “intimá-lo”, em nome de todos os nossos amigos que não conseguiram ver, a prosseguir com mais algumas sessões, porque seu trabalho seria digno de uma premiação, se houvesse alguma categoria em que pudesse ser incluído, assim como o do Ivam. Eu seria capaz de rever os dois, e gostaria de.

Para mim, não é TEATRO. E não adianta me perguntar por que penso assim, simplesmente, porque não vou responder, já que daria um tratado, mas continuo achando super válido, dando a maior força a todos, assistindo ao máximo que posso e fazendo questão de pagar pelo ingresso. (Só fui, como convidado, a dois deles.)

Recomendo, mesmo, essa experiência e muitos aplausos a todos os que têm partido para essa novidade!

Fonte: Facebook

Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
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