CRÍTICA | ‘Satyrizando’ salvaremos o mundo

Por Paty Lopes

E quando a esperança parece apagar, um grupo de teatro chamado “Satyros” inunda o mundo de fé, fazendo o espectador olhar para dentro de si e perceber que as mudanças podem acontecer.

Impossível não se impactar e muito menos não voltar a ter crença na humanidade ao assistir ao último trabalho desses artistas cênicos. Todos precisam acreditar que de alguma forma é possível reverter todo esse sentimento negativo, que toma conta de todos cada dia mais.

Reencontrar as boas sensações não tem preço, principalmente diante deste momento difícil, e parece que o pessoal da “Satyros” sabe disso. “Uma Peça para Salvar o Mundo”, é prova disso.

Dá vontade de sair por aí com uma flauta e bandeira branca, batendo de casa em casa, convidando a todos para essa maravilha. Regozijo na alma, é como pode-se resumir essa obra.

A companhia de teatro Satyros, fundada 1989, por Ivan Cabral e Rodolfo García Vázquez, rapidamente tornou-se conhecida em território nacional, um respiro de teatralidade, com teatrólogos competentes e qualificados.

Impossível não ressaltar as boas novas, que esses artistas oferecem ao mundo, e se existe uma chance de mudança, está aí.
Convide seus amigos, os inimigos, os conhecidos e até os desconhecidos para assistirem a uma peça que pode mudar o mundo e certamente o espírito dos “satyrianos” trará análises e provocará mudanças, mudanças essas necessárias e urgentes.

Eles são extremamente assertivos, demasiadamente esperançosos e plantam em todos a semente do otimismo, tão vital neste momento obscuro.

É um presente à humanidade, o espetáculo que a “Satyros” traz, é transformador.

Oxalá! Que essa obra virtual crie a força de Zeus e transpasse cada coração, a humanidade precisa dessa luz. Essa obra-prima convida os espectadores a participarem do espetáculo virtual, pois ela depende de cada espectador para ganhar forma e beleza.

Belíssimo momento em que elevamos os pensamentos para todos aqueles cujos pulmões comprometidos não suportaram a invasão deste vírus cruel. Respeitosa e muito bela a homenagem.

O relato dos espectadores evidencia como o mundo está descrente e sem esperanças. No decorrer do espetáculo vídeos e narrativas alimentam as esperanças no futuro e fortalecem a todos, até que ocorre uma explosão de sentimentos entre os envolvidos.

O público é convidado a fazer parte do show, dividir as atenções e exercitar a escuta, o que é tão difícil atualmente. O espetáculo termina com a esperança pulsando no coração e na alma de cada um.

O ator anfitrião dá as coordenadas. Dócil, Ivan Cabral, que atuou em “Todos os Sonhos do Mundo”, vem sequestrando corações durante a quarentena, com tanta cordialidade no tom de voz, que entra nas residências e no coração.

Até ser substituído por Thiago Mendonça, a Aparecida…

Thiago consegue ser tão intenso quanto o anfitrião e permanece mais tempo com o espectador. Mas, de uma forma inesperada, é uma grata surpresa, que ficará para sempre na memória dos participantes, por seu lirismo.

Na verdade, os “Satyros” estão na plataforma “Espaço Digital dos Satyros”, no Sympla, com uma diversidade de espetáculos, tem para todos os gostos.

Durante a pandemia foram premiados internacionalmente. E agora, com essa teatralidade, que adentra pela medula, provoca mudanças e lava a alma. E neste mar de preciosa crença na transformação de dentro para fora, a alternativa de um novo tempo de paz renasce em todos os presentes na plataforma. Certamente John Lennon teria uma síncope.

Figurinos, cenário, iluminação, dramaturgia, caracterização e som? Absolutamente dispensáveis, é um espetáculo onde as pessoas fazem toda a diferença, trata-se da busca por um mundo melhor.

É necessário um robô para se pensar como humanos?

Até onde as atitudes contribuem com o ambicionado mundo melhor?
Salvar um vaga-lume da teia de uma aranha, quando ela já tem inúmeros insetos, é salvar o mundo? E se ele estiver em extinção? E que diferença faz salvar um vaga-lume, tirar plástico do mar, ter filhos, cantar, que diferença faz?

Na verdade, se existe um médico para curar a humanidade, é fato de que ele seria um artista da “Satyros”, e a receita seria categórica e simples: assistam a “Uma peça para salvar o mundo”.

 

Fonte: Portal

 

Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
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