Por: Leonardo Davino
Não há como ir a São Paulo e não aproveitar algo da programação dos Satyros.
Com o mote de que a terra está tão atulhada de divindades que é mais fácil encontrar um deus do que um homem e, portanto, estando à procura destes e de suas humanidades, fragilidades e finitudes, a adaptação dos Satyros para o clássico da literatura – o Satyricon – mistura a mitologia romana à vida noturna dos michês da grande metrópole.
Descolados do tempo literário e postos na roda viva da noite, dos mictórios públicos, as personagens de Petrônio – o trio Encólpio, Ascilto e Gitão – adaptam-se muito bem ao novo contexto também repleto de mitos, riscos e busca pela sobrevivência à beira do abismo. E a proposta se agiganta por se manter muito distante do filme de Felini.
Os destaques do espetáculo ficam por conta da luz e da direção. Além da trilha sonora e dos objetos de cena. Sem contar o modo sempre singular com que os atores dos Satyros se atiram no salto mortal da encenação, fazendo juiz à classificação indicativa da peça.
Crônica e lirismo se mesclam para montar o império sucateado em que vivemos. Crepúsculo do macho. Resta-nos aceitar a sina escravocrata imposta pela sociedade do espetáculo. Eis a proposta do Satyricon dos Satyros.
Fonte: http://medindodias.blogspot.com.br, 10 de junho de 2012