CRÍTICA | José Cetra escreve sobre Uma Peça para Salvar o Mundo

E assim os Satyros vão se reinventando. Desta vez temos uma peça que tem estrutura narrativa sem atores criada por Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez que vai sendo recheada por depoimentos dados pelos espectadores. A condutora da trama é uma máquina que tem a difícil missão de equilibrar o fio condutor proposto pela dramaturgia com os relatos vindos dos espectadores aos quais ela tem que reagir. Ao dar voz ao público os nossos caros Satyros parecem dizer: a peça para salvar o mundo está em suas mãos!

A inovação de Ivam e Rodolfo não está só na forma, mas também no conteúdo: depois de muitos trabalhos calcados nos habitantes do entorno (A Vida na Praça Roosevelt e a série Pessoas), nas questões de gênero e no futuro distópico (a maioria dos últimos trabalhos virtuais), eles procuram uma luz no fim do túnel com a colaboração do público. Isso não é pouco. Saímos de Uma Peça Para Salvar o Mundo muito emocionados e com a sensação que colaboramos para essa sensação coletiva de esperança que o espetáculo provoca.

Há muita humanidade na relação da máquina com os espectadores entrevistados e isso se deve também à dramaturgia, mas principalmente, à interpretação de Thiago Mendonça. Apesar de estar com uma máscara e de manter uma entonação de voz propositalmente monocórdica, a máquina reage sorrindo, se emocionando, se indignando e se relacionando com o entrevistado. E tudo isso contando apenas com sua face mascarada e a voz. Thiago conduz com brilho o espetáculo e sua Aparecida ficará para sempre na lembrança de quem teve o privilégio de conviver um pouco com ela, mesmo que tenha sido de forma virtual. Na sessão a que assisti houve quem propusesse que ela se candidatasse a presidente do Brasil! Garanto que seria uma ótima opção diante do escandaloso quadro político que temos à disposição neste pobre Brasil.

No meu modo de ver Uma Peça Para Salvar o Mundo pode ser colocada ao lado de grandes momentos dos Satyros como A Filosofia na Alcova (2003), A Vida na Praça Roosevelt (2005), Roberto Zucco (2010), Hipóteses Para o Amor e a Verdade(2010), Pessoas Sublimes (2016), Todos os Sonhos do Mundo(2019) e A Arte de Encarar o Medo (2020), todas elas dirigidas pelo incansável Rodolfo García Vázquez. Ressalto que esta lista é puramente pessoal.

Como escrevi acima, Uma Peça Para Salvar o Mundo respira humanidade e é um verdadeiro antídoto para o veneno que somos obrigados a engolir nestes tempos sombrios e vem se somar a muitos bons momentos que o teatro virtual tem nos oferecido nestes primeiros meses de 2021.

 

Temporada até 17/05 com sessões às sextas, sábados e segundas às 19h e domingos às 16h. Gratuito. Retirada de ingressos: www.sympla.com.br/espacodigitaldossatyros

 

IMPERDÍVEL!

Fonte: Palco Paulistano, 3 de maio de 2021

Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
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